domingo, janeiro 18, 2015

Charlie e a liberdade

Um excelente texto do Padre Gonçalo Portocarrero de Almada para o Observador. Deixo um excerto, aconselho a leitura na íntegra.

"Quem só se revê nos que pensam do mesmo modo, não ama a liberdade, porque a reduz a um reflexo narcisista da sua própria vontade. Os ditadores também actuam politicamente em função deste enviesamento da liberdade e, por isso, consideram como traidores todos os que não se identificam com a sua ideologia. A cultura da liberdade e da democracia afere-se pela aceitação do outro na sua diferença política, cultural, religiosa e social, sobretudo quando contradiz o que pensamos e somos.

Não sou Charlie, porque não me revejo no seu posicionamento ideológico, na sua intolerância, nem na sua agressividade verbal contra a liberdade religiosa. Não subscrevo o seu fanatismo laicista, nem me agrada a sua linguagem abjecta. Mas também não aceito que haja que optar entre ser Charlie ou não ser Charlie. Essa dicotomia obedece a uma lógica totalitária: também os comunistas e fascistas entendem que todos os seus adversários são, respectivamente, fascistas e comunistas. Porém, não posso ignorar que doze homens perderam a vida num infame atentado. Não me compete ajuizar se os caídos eram santos ou pecadores; basta-me saber que eram seres humanos e, portanto, meus irmãos. E que foram traiçoeiramente assassinados."

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