Um excelente texto de Rui Ramos, publicado no Observador. Deixo-vos alguns excertos, vão ler na íntegra: "Hoje, consideramos ofensivo tudo aquilo com que não concordamos ou de que não gostamos. A indignação é uma indústria. Nas redes sociais, milhares de pessoas circulam à espera de serem ofendidas."
"A tolerância e a igualdade desaguaram assim no “direito de não ser ofendido”. Subitamente, a primeira luta de uma “minoria” não é para dispor dos mesmos direitos dos outros cidadãos, mas, em nome de antigas discriminações, adquirir privilégios especiais, tornando-se mais ou menos sagrada e intocável."
"Por isso, a extrema-esquerda ocidental fez-se imediatamente campeã de muitas destas causas, não por qualquer consideração ou estima, mas por simples oportunismo político: à falta de classe operária, servem as minorias de carne para canhão. O “politicamente correcto” é um dos seus efeitos."
"Como disse Michel Houellebecq, o direito à liberdade de expressão não faz sentido, se ao mesmo tempo for proibido dizer isto e aquilo. Mas quer isso dizer que não há limites, como também reclama Houellebecq? Há, claro: os limites da lei."
"Se me caluniarem ou apelarem à violência contra mim ou contra qualquer grupo a que eu pertença, posso recorrer à lei, que protege o direito ao bom nome e à integridade física. Mas se me ferirem o gosto ou a sensibilidade, tenho outra solução: não vejo o filme, não ouço o disco, não compro o jornal, não vou ao site. Exerço a minha liberdade. É a única maneira: outra qualquer receita tiraria todo o sentido à liberdade de expressão, e obrigar-nos-ia a admitir que a experiência histórica das sociedades mais livres de sempre teria servido apenas para apurar que, no fundo, ninguém se dá bem com a liberdade."
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