Uma reflexão pessoal
Ontem enervei-me com os resultados das eleições. Não é que não estivesse à espera, mas é sempre angustiante ver e sentir a mentalidade dos cidadãos do meu país. Vi, como todos vimos, 3 candidatos, supostos corruptos, a serem eleitos pelo povo. Pelo povo a quem esses candidatos roubaram. Enervei-me. Pensei vezes sem conta “porquê?”, “como?”, “mas que raio de país é este?”, “como é que as pessoas podem ser tão estúpidas?”. Pensei nas pessoas que conheço em Gondomar e em Oeiras e que, possivelmente, até votaram no Valentim e no Isaltino, respectivamente. Prefiro nem saber se sim ou não. Prefiro ficar na dúvida. São pessoas que conheço e de quem gosto e custa-me pensar que, também elas, colaboraram para transmitir a mensagem que a corrupção compensa.
Depois tentei apaziguar-me e tornar a coisa mais leve. Pensei que, se em três concelhos aconteceu o mesmo, talvez não exista um erro. Talvez não existam tantas pessoas estúpidas.
Conheço pouco, mas alguma coisa, da obra de Valentim Loureiro em Gondomar (porque morei vários anos perto e tenho amigas que lá moram). Conheço um pouco mais da obra de Isaltino Morais em Oeiras (porque trabalhei numa revista da zona), não conheço nada da obra de Fátima Felgueiras. Do que conheço sei que fizeram coisas que agradaram às respectivas populações. Se eu lá morasse, e caso não houvesse nenhum tipo de acusação pendente, votava neles. Mas há dúvidas. São pessoas que estão “a contas com a justiça”. Se pensarmos no imediato, verificamos que o melhor seria votar neles. Afinal eles supostamente roubam, tudo bem, é verdade. Mas, mesmo roubando, dão mais à população do que aqueles que não roubam. Não será mais corrupto ainda estar num cargo só para ganhar um ordenado e ser incompetente, não fazendo nada do que é suposto? Não será melhor termos alguém que rouba 20% e trabalha 80% do que termos alguém que não rouba nada (além do seu próprio ordenado) e trabalha 20%? Não acabará por ser muito mais prejudicial para a população ter um incompetente honesto à frente de uma câmara, do que um competente desonesto?
Acredito que estes pensamentos tenham pairado nas cabeças de quem votou naquelas pessoas. Quero acreditar que lhes foi difícil tomar a decisão, e que decidiram pelo imediato em vez de pelos valores correctos.
Mas e que valores estamos a transmitir aos nossos filhos? E que mensagem estamos a passar aos corruptos? No imediato talvez tenha sido benéfico votar naquelas pessoas, e no futuro?
Depois de pensar e reflectir sobre o assunto, a angústia passou. Entendi o que terá passado na cabeça de quem votou e fiquei a saber que eu jamais o teria feito. Não poderia ter olhado apenas para o meu umbigo. Seria egoísta e irresponsável. Não! Por muito que fosse benéfico no imediato vai ter consequências graves no futuro. Temos a responsabilidade de mostrar que quem engana, quem é criminoso, quem escolhe ir contra a lei, tem de ser punido. Ou deveríamos ter essa responsabilidade. Depois dos resultados de ontem que moral têm as pessoas que votaram em supostos corruptos, para se queixarem que a justiça em Portugal não funciona? Não funciona porque continuamos a olhar única e exclusivamente para o nosso umbigo, para o que é melhor para nós pessoalmente, em vez de pensarmos o que era melhor para o país e para mudar mentalidades.
Depois de ontem estagnámos um bocadinho mais. Depois de ontem fiquei a sentir um bocadinho mais de vergonha de ser portuguesa. É lamentável, mas já está feito...
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