segunda-feira, julho 18, 2005

"Conduzir" em cidade

Saiam da frente que eu quero passar, ó seus &%$@£%$ do %&$$%##!!Todos os que, como eu, fazem a maioria dos seus quilómetros anuais a conduzir em cidade, sabem que estamos num outro mundo. Palavras e expressões como "selva", "é o salve-se quem puder" e "quem tem dedos é que toca viola", para além de serem de uso comum, julgo que ilustram muito bem a realidade.

De tanto conduzir neste meio, quando saio para o "exterior", por vezes sou confrontado com certos sinais que desconheço de todo, tendo de fazer um esforço quase sobre-humano para os tentar descodificar.

Tenho para mim que conduzir em cidade, e especialmente numa grande, exige do condutor uma característica, que nem todos os seres humanos têm, que é uma apuradíssima Gestão de Expectativas - perceber quando um condutor não vai parar, dar a entender o mesmo, minimizar as percas de tempo em cruzamentos e rotundas, estar sempre a contar com o imprevisto, identificar de imediato quer os condutores tresloucados, quer os empatas, etc, etc. Tudo isto mantendo uma distância que nos permita reagir de imediato em caso de perigo, mas que não faça de nós o caixote do lixo das frustrações alheias, nem que ouçamos uma buzinadela de 10 em 10 segundos.

Mandar às malvas o código da estrada é das primeiras decisões que se deve tomar, para se ser bem sucedido neste "universo paralelo". Deveriam até existir duas versões deste importantíssimo documento, a que é do conhecimento comum e uma outra vocacionada para o trânsito citadino, com 4 míseras e singelas páginas:

- capa;
- 2ª página: informações relativas à edição;
- 3ª página: "Meu amigo, você não pode andar a atrapalhar o trânsito" em letras garrafais acompanhado de um post-scriptum : "Convém parar nos semáforos, quando está vermelho!";
- contracapa.


Costumo até dizer muitas vezes que a sinalização existente nas cidades só faz sentido quando ocorre um acidente e existe necessidade de determinar os eventuais responsáveis. Porque de resto, para que serve aquilo?

- sinais de perigo, quando ele é uma constante;
- sinais de STOP para estradas em que não param de passar carros;
- sinais de aproximação a uma via com prioridade, quando nas mesmas existem filas monumentais;
- limites de velocidade que só são cumpridos por quem anda a "tirar a carta";
- recomendações de travar em "amarelos a cair" quando, num relance ao espelho retrovisor, reparamos que o tipo que vem atrás de nós jamais vai parar;
- passadeiras e sinais de localização das mesmas, quando peões suicidas atravessam onde muito bem entendem e de preferência quando o sinal está vermelho para eles. Será que aquela gente não percebe que algo em movimento com mais de uma tonelada não pára assim tão facilmente?;
- proibições de virar, quando se teria que fazer mais 2 Kms para inverter o sentido da marcha;
- sinais de proibição de estacionamento, em que por vezes temos que ler aquilo 10 vezes, munidos de um manual de lógica de Boole, tantas são as exclusões e as permissões?
- sinais de sentido proibido, quando toda a gente sabe por onde pode andar e, caso alterem o sentido do tráfego, lá nos enfiamos nós por onde não devemos.

Para que serve isto tudo? Dezenas e dezenas de milhares de objectos de metal redondos, triangulares, quadrados e rectangulares, para quê? Como já disse, aquilo só serve os interesses das seguradoras automóveis! Para rigorosamente mais nada!

Portanto, caríssimos membros de futuros executivos camarários, está aqui uma bela oportunidade de reduzir as despesas orçamentadas, no que a estes itens diz respeito. Ou acabam de vez com a sinalização, ou então transfiram este ónus para as seguradoras! Assim, se calhar já podem contratar mais um motorista, ir de férias mais uma semana com a secretária para Bali, ter mais disponibilidade financeira para ajudar a Sociedade Recreativa lá do vosso bairro ou até, quem sabe, renovar toda a frota automóvel da autarquia, mais a mais tendo em conta que o vosso cunhado é chefe de vendas do concessionário BMW aí da zona!

PS: Bolas que mesmo em pleno período de férias, hoje de manhã foi do catano, na minha habitual volta matinal entre as 8.00 e as 10.30... Como é que um gajo depois pode dormir convenientemente à noite com sustos destes?

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