quarta-feira, junho 25, 2003

Maria Barroso critica posição de Paulo Portas

No Diário de Notícias pode ler-se este artigo de opinião de Maria Barroso Soares, após o seu pedido de demissão da Cruz Vermelha devido à intromissão de Paulo Portas nos assuntos da mesma. Do artigo em questão deixo alguns excertos para quem não tiver paciência para ir lê-lo todo:

«Há muito que a Cruz Vermelha Portuguesa se deveria ter subtraí­do à tutela do Ministério da Defesa. É de resto, a única sociedade nacional - a nível mundial - que mantém essa ligação [...]

A Cruz Vermelha é uma instituição inspirada por princípios universais, que considero indiscutíveis, entre os quais o da independência. Não aceita, nem deve aceitar a intromissão, na sua esfera interna, do Governo do paí­s a que pertence. [...]

não aceito a intromissão abusiva do senhor ministro da Defesa no processo da eleição em curso dos Órgãos dirigentes da Cruz Vermelha. Constitui um péssimo precedente que não posso aprovar e, por isso, não autorizo que o meu nome figure na lista apresentada pelo senhor secretário de Estado. [...]

o passivo de mais de dois milhões de contos (10 milhões de euros, na moeda actual) que encontrei na instituição e, especialmente, no Hospital da Cruz Vermelha. Esse défice foi ultrapassado com a compreensão do Governo de então e a competência e dinamismo do director do hospital que convidei, Dr. Manuel Pedro Magalhães. Essa difí­cil batalha foi ganha dentro de um quadro de legalidade e de absoluta transparência, em que os protocolos e compromissos assumidos foram totalmente respeitados, passando-se de uma situação de grande precariedade - à beira da falência - para uma situação de perfeito equilí­brio sob todos os aspectos - financeiros, organizacionais, profissionais e humanos.

[...]

Da história tortuosa e desleal do processo eleitoral ainda em curso falarei quando e se vier a entender oportuno.
[...]

Nunca recebi quaisquer honorários ou despesas de representação da Cruz Vermelha nem quaisquer outros benefí­cios materiais. A minha passagem pela Cruz Vermelha entendi-a sempre como uma missão desinteressada ao serviço de uma instituição humanitária. A auditoria que o senhor ministro da Defesa mandou fazer, talvez com o propósito de encontrar pretextos para justificar a minha substituição por um membro do seu partido, mostrou claramente a isenção e a completa transparência da gestão da administração a que tive a honra de presidir. Saio com a satisfação do dever cumprido e o sentimento de não ter transigido com uma manobra partidária que não dignifica quem a praticou nem quem com ela pactua.»