domingo, junho 15, 2003

Vera, que merde!

Sem querer desancar na senhora com 2 t's no sobrenome (em Portugal chega para ser colunista e/ou colunável), hoje, na leitura do Diário de Notícias dei com isto...desculpem, com esta crónica... não desculpem mesmo, com esta bela merda. Pardon, com esta belle merde!
Depois do Ricardo Araújo Pereira, do Gato Fedorento, se ter deliciado com o texto da senhora Camila Coelho sobre o lixo ou sobre os pombos coxos, eis que surge Vera Roquette, não menos inspirada que a senhora anterior, com este "texto sublime":

Paris, merde!
Je m'emmerde, tu t'emmerde, en s'emmerde. Tout le monde s'emmerde: o país s' emmerde.

Um salto a Paris. Três dias. Chance, chance, merde!

Paris du monde, des arts, des lettres: Paris lumière. Paris de Marat e Robespierre, de Balzac, de Hugo, de Rousseau e Voltaire, de Gide, de Valéry, de Verlaine e Baudelaire, Paris café de la Paix, Fantôme de l'Opéra.

Paris, toujours de sempre. Paris au coin du ciel, sacadas de frescas sardinheiras, Paris das boulangeries, das pâtisseries, des tartes aux pommes, Paris des roses, dos lilases e papoilas, rubains em vasos de latão. Paris de Brel, de Chevalier, de Bécaud, de Piaf et Moustaky, Liberté! Paris das Tulherias, das tricoteuses e vendeuses envinagradas e chauffers furibonds, que atiram com a porta au nez dos clientes.

Paris Rive Gauche, Paris Rive droite: Sena de braços abertos, «elle coule, coule, coule...»

Paris de baixo, Paris de cima. Paris Chanelle, Paris Zara. Paris des Lafayettes: inferno dos homens. Um, ressona, outro, espreguiça-se, coça a cabeça, regarde la montre, outro encore, lê um calhamaço. Espreito: Tolstoi! Ela, chega en retard, vietnamita, a arfar, redonda, rempli de sacos e esperanças, trapos e facturas. La vie en rose!

Paris, Global. Louvre: entram nipónicos de olhos em bico e saem de olhos fisgados, ainda mais em bico, de dedo ininterrupto na câmara, a filmar, a filmar aos «s», em círculos que estonteiam, fous com a Gioconda. Ela, trocista, s'en moque - que mais vale cair em graça. E sorri, das vénias, dos parlapiés, das multidões, dos flashes e acotovelamentos, sorri, dos muitos sorrisos de Leonardo, de outras Virgens Nossas Senhoras.

Paris dos ténis a pisarem tapetes fofos e a insultarem frescos. Mais, voilá! que ela passa, chic, esguia, na saia traçada da cor do linho. Paris, quand même!

Paris crème de la crème, dos gourmets, dos Chandons, dos Fauchons, dos Bocuses. Paris des vaudevilles, de Queen et chez Castel, Paris des escargots, des huîtres et cornichons, Paris des trottoirs, des cafards, des voyous et des sous.

Paris des brasseries, des Faubourgs, des grands boulevards e promenades, des foules, des rêves, chance, chance, merde!

No hotel. Hesito: vejo ou não vejo o Telejornal? Vejo. Merde!

Seguem-se anúncios: Fernando & Fernandes, enterros de pompa e circunstancia! «Queremos continuar a servir amavelmente os nossos clientes» (Irra!), e ele, o Fernandes, imponente, à secretária, de bigodes farfalhudos.

Saio. É noite. Paris, reflecte luz. Rendo-me. Paris Concorde, Paris St Germain, Paris Montparnasse. Olho o cartaz da Benetton: «De la nourriture pour la vie». Um homem musculado tem, no lugar da mão direita, uma prótese com colher. Amanhece. As pessoas continuam a correr, folles, a desgastar-se nas montras. A reinventarem-se. «De la nourriture pour la vie».

Salut! Paris, Bonjour ... L'important, c'est la rose.

Et maintenant? Maintenant, vite! Paris Orly, au revoir, à bientôt, je reviens te chercher, Paris: «De la nourriture pour la vie». Beauté ivresse, intranquilité, la foule, la rose, la seine... ça y est! Paris."

Comentários para quê, é uma cronista portuguesa, ou à portuguesa. Vera, com sotaque e com 2 t's...queres um encore da crónica? Cá vai, aponta aí!

"Croissant, merde;
Roland Garros, merde;
Jacques Chirac, merde;
Merde, chien, merde;
Beacoup de merde;
Rien de rien, merde, Piaff, merde;
Oh la la, que merde! Oui, que merde!
Vera, porquois...porquois...merde!"

Só uma pergunta...o DN paga por estas colunas? É que se paga...que merde, l'argent....oh l'argent, que merde!

Tanta gente com coisas para dizer e tanta merde nos jornais que temos!