Kafka na meca da velocidade
Foi pena que este nosso compatriota tenha conquistado o seu primeiro resultado de relevo no topo do desporto automóvel, naquela que me pareceu ser claramente a sua melhor prestação do ano, na corrida de Fórmula 1 mais surrealista que algum dia vi na vida. E se eu já vi muitas... No entanto, ele não tem culpa da incompetência de terceiros e para ele os meus parabéns!
Tenho para mim, que não acontecendo o que aconteceu, ele teria na mesma uma forte possibilidade de ter pontuado. Se ocorressem 3/4 desistências - uma situação vulgar - pareceu-me que o andamento que o piloto português, teve durante toda a prova, poderia ter-lhe valido um lugar nos 10 primeiros e com um pouco de sorte, a última das posições pontuáveis.
A maioria dos portugueses não deve ter assistido a esta corrida em directo, uma vez que foi transmitida na RTP-N (já agora, para que serve este canal?) e ficou marcada pela desistência, após a volta de apresentação, dos 14 carros de 7 equipas, que entraram directamente para as boxes, nem sequer se apresentando na grelha de partida, alegando que os seus pneumáticos não lhes ofereciam condições mínimas de segurança.
Todos os envolvidos na F1 sabem que um jogo de pneus deve durar a volta de qualificação, assim como toda a corrida e que eventuais trocas de pneumáticos, em corrida, só podem ocorrer quando a segurança dos pilotos está em causa. Ou seja, quem fornece pneus deve projectar os mesmos para resistirem cerca de 315 Kms, em condições extremas de temperatura, de desgaste, de forças G e de tracção. Os fornecedores, antes do início de cada GP, devem dar a conhecer quais os compostos que vão dar aos seus "clientes" - deve haver sempre duas alternativas no que diz respeito à relação durabilidade/prestações, os chamados "moles" e "duros" - e estes não podem ser motivo de troca durante o fim de semana que dura um GP.
É quase ridículo que um dos maiores construtores mundiais de pneumáticos e dos que mais experiência tem da competição a qualquer nível - a Michelin - tenha fornecido às suas equipas, para o GP dos EUA, um tipo de pneus (e este deve ser o melhor dos dois... faço ideia quantas voltas duraria a 2ª opção) que somente garantia eficácia durante 10 voltas. E mais ridículo ainda, exigir da FIA uma série de alterações de forma a permitir que os seus carros fossem competitivos, penalizando assim quem tinha feito "os trabalhos de casa".
Ficou provado que os pneus da sua concorrente - a Bridgestone - cumpriram com o que lhes era exigido, dado que todos os carros que partiram para esta "corrida", chegaram ao fim e sem problemas a este nível. Logo, porque raio deveria ser penalizado o construtor japonês, a bem do espectáculo, quando as regras são bem claras? Compreendo perfeitamente a posição de quem diz :"Ah e tal deviam ter mudado algo a bem dos espectáculo", mas não posso deixar de concordar com a inflexibilidade de quem regula este desporto, sob pena de se abrir um grave precedente. Mesmo que isso implique uma situação a roçar os limites do absurdo (e o Absurdo quer lá saber disso para alguma coisa, até lhe sabe bem...)
PS: Atenção que me parece que o tipo que ganhou ontem está cada vez a andar mais próximo dos primeiros e, após já lhe ter vaticinado um ano "a ver passar navios", parece-me que se calhar ainda vamos ouvir falar mais dele esta época.
Sem comentários:
Enviar um comentário