Sou aquilo a que vulgarmente se designa por uma besta com "coração de pedra". Treinado anos a fio a guardar para mim toda e qualquer emoção, "porque um homem não chora", muitos e muitos dissabores esta postura me tem custado na vida, mais que não seja interiormente.
Frequentes são as situações em que me apetece exteriorizar certos sentimentos e o racionalismo acaba, se calhar infelizmente, por imperar.
No entanto, hoje apetece-me, por escrito - já não é mau de todo, hein? - dar um pouco de vazão à coisa. Com esta rajada de falecimentos de figuras públicas, passou um pouco ao lado a morte de Eugénio de Andrade.
Confesso que não aprecio de todo poesia (bom, a excepção se calhar é o livro do ultra-bizarro e lunático Fernando Grade, intitulado "Mecânico de OVNIS", mas isso é derivado da forma desconcertante como ele vive, ou vivia, no seu próprio universo alternativo) e regra geral encaro-a como algo de desinteressante e feito a pensar naqueles sonhadores que passam o tempo todo numa nebulosa qualquer, que não a minha.
Devo no entanto dar a conhecer aos 6 visitantes assíduos deste blog, que este poema que aqui este amigo colocou on-air, como forma de prestar uma homenagem, provocou em mim uma emoção que esteve muito próxima do choro. Quando o li e reli, foi o que me apeteceu fazer. Estava sozinho e não havia nenhum problema em o fazer (lá está a tal cena do "és um homem ou um rato"), mas mais uma vez o "coração de pedra" voltou a imperar! O chamado nó na garganta fez-se sentir! Mas o que acabou por suceder foi o clássico "segue jogo".
Mas o bichinho ficou a roer e desde então já o reli pelo menos umas 10 vezes.
Ao Eugénio de Andrade, que nem sabia quem era (tal como continuo a desconhecer de todo a sua obra) e ao João, o meu muito e muito obrigado. Ao primeiro, por ter escrito estas palavras magníficas e ao segundo por me as ter dado a conhecer. Repito-as porque não consigo de todo criar um link em que apareça somente o post original.
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
PS: Vamos lá a ver se amanhã já não me arrependi disto e começo a pensar que estou a cair no ridículo...
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