quinta-feira, março 25, 2004

O nosso Nobel

«Os cães somos todos nós: aqueles que têm consciência de que a democracia está ferida de morte. Começar a uivar seria decidirmos em colectivo votar em branco para ver o que acontece. Mesmo que só por curiosidade intelectual.»Numa entrevista notável (sem ironias), concedida ao Diário de Notícias de hoje, José Saramago afirma que «a democracia ocidental está ferida de morte». Ora, vindo de quem vem, esta é uma boa notícia, certo? Ou as únicas "democracias" que estão fortes e pujantes são as que Saramago aprecia, do tipo cubano?

Diz Saramago, por exemplo:

"Quando acordámos livres no 25 de Abril de 1974, não estávamos em democracia. Estava tanto por começar... Trata-se de um processo incompleto, a que pode suceder algo negativo, assistindo-se à sua redução constante."

Malandros dos que não deixaram que este país se transformasse numa verdadeira democracia, daquelas onde ninguém pode dizer o que pensa, como a do camarada Fidel...

"Gostaria de viver o momento em que, nalgum lugar, pudéssemos assistir a uma manifestação de uma vontade política maioritária em que os cidadãos pudessem dizer: «Isto não presta; precisamos de algo melhor!»

Mas...não foi isso precisamente que define o que se passou no 25 de Abril? E não é o que se passa em todas as eleições? Ou não é isso mesmo a democracia?

De qualquer maneira, e mesmo discordando com alguns dos argumentos apresentados, achei a entrevista de Saramago muito interessante e descobri que, mesmo partindo de pontos de partida diferentes (nomeadamente do que diz respeito à ideia do que deve ser uma democracia), acabo por encontrar muitas ideias nas quais concordo com o escritor. Quem diria?

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