Ser (atleta) português!
Eu faço parte daquele grupo de pessoas que pensa que no nosso país se exagera claramente (a começar pela comunicação social) no que se pede/exige aos atletas portugueses das modalidades ditas amadoras, durante os Jogos Olímpicos. De quatro em quatro anos lá vem a possível avalanche de medalhados e recordistas de atletas que, durante os espaços entre jogos, vivem no maior dos anonimatos, façam eles os resultados que fizerem nas respectivas modalidades. Não que eu pense que os atletas devam partir sem ambições, é óbvio que devem fazê-lo, no entanto, que tentem apenas dar o melhor de si mesmos e que saiam com a satisfação do dever cumprido e sem arranjar as chamadas desculpas de mau pagador. É que, e mesmo tendo em conta que estão a competir com os melhores atletas do mundo e que, por essa mesma razão, é complicada a obtenção de medalhas, pior que a falta de resultados é a reacção da grande maioria dos atletas e treinadores depois de algumas desilusões. Fica um resumo do que já se ouviu nesta edição dos Jogos:
- José Romão, 'treinador' da selecção de futebol, após a derrota com o Iraque, por 4-2: "Não fomos tão fortes quanto esperávamos. Sabíamos que o Iraque é uma equipa poderosa, muito forte. No entanto, nem sempre quando se estuda os adversários se sabe que têm jogadores muito rápidos...a derrota tem influência na questão psico-somática dos jogadores";
- Miguel Maia, da dupla de voleibol de praia, derrotada pela equipa da África do Sul (70ª do ranking mundial e que só esteve presente porque o comité olímpico achou por bem que naquela modalidade houvesse um representante do continente africano) em apenas dois sets: "Foi um ano dramático para nós. Não competimos, o que não é bom...";
- Nuno Delgado, judoca (-81 kg) vencedor da medalha de bronze em Sidney2000, após ser eliminado na 1ª ronda por Roberto Meloni, de Itália: "Vivi um ano negro, que dificilmente esquecerei. Foram lesões atrás de lesões e não consegui treinar normalmente";
- João Neto, judoca (-73 kg), após ser eliminado pelo americano James Pedro: "Fui puxado para o tapete e nem tive tempo de falar com o meu treinador. Nem cinco minutos estive a descansar e não pude acertar qualquer estratégia sobre o adversário";
- Custódio Ezequiel, atirador de fosso olímpico, após ficar em 22º no 1º dia da sua prova: "Foi um momento de desconcentração que foi fatal. Os nervos acabaram por me trair";
- José Pego, treinador de João Costa, atirador de pistola de ar comprimido de 10 metros, após o seu púpilo ficar em 17º lugar: "Algum cansaço retirou-lhe o discernimento necessário na parte final";
- Mário Madeira, treinador do nadador José Couto, após o atleta ter ficado em penúltimo da sua série de apuramento dos 100 m bruços: "Com as primeiras derrotas, o Zé perdeu a confiança em si mesmo há uns anos atrás e é difícil voltar a competir em grandes competições sem ficar muito nervoso";
...e por aí fora: na vela ou há vento a mais ou vento a menos, nos desportos individuais ou se tem o azar de calhar com um adversário muito poderoso ou com um adversário desconhecido, nos desportos colectivos ou se está muito cansado ou se teve pouco tempo de preparação. Nunca ou muito raramente se perdeu porque...se foi pior! Há sempre uma qualquer desculpa pronta para disparar, principalmente quando se tem um microfone à frente. E o pior é que não se trata apenas de um 'defeito' dos atletas, penso que seja mesmo uma característica dos portugueses, dos quais a comitiva olímpica não deixa de ser uma amostra. Quando ganhamos somos os 'máiores', quando perdermos há sempre uma razão qualquer (azar, lesões, cansaço, nervos ou outra coisa qualquer) para não termos ganho.
No fundo...é a vida, ou o fado português, também no desporto!!!
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