Para onde vais Benfica?

Por vezes faço parte daqueles milhares de portugueses que alimentam uma coisa quase única no Mundo. Um país tão pequeno, consegue sustentar 3 jornais desportivos diários e com uma tiragem de se lhes tirar o chapéu. No passado domingo, adquiri um exemplar d´"A Bola", para ler o comentário que faziam à magnífica actuação do atleta Alberto Chaiça, na prova da Maratona dos Campeonatos do Mundo de Atletismo, que se realizaram em Paris.

E qual não é o meu espanto quando lá dentro vinha incluídos um folheto e um envelope RSF, que se intitulava "Inquérito ao Benfiquista". Como adepto do Glorioso, abri de imediato o folheto e comecei a lê-lo. Pretende ser um questionário, para avaliar numa série de parâmetros o adepto e para incentivar o ser humano a responder correctamente e devolvê-lo em tempo útil, prometem os responsáveis do clube, o sorteio de 10 bilhetes de época.

Fiquei boquiaberto e extremamente alarmado. Trata-se de algo, que infelizmente, cada vez mais faz parte do nosso dia-a-dia. É quase que o "Big Brother" - não o da TVI, o do George Orwell - em frente dos nossos olhos, tal a quantidade de informações que pretende saber. Passo a destacar:

- Identificação pessoal, com morada, nº de contribuinte (sabe-se lá para quê...), nº de telefone, nº de telefone móvel.

- Em seguida questionam uma série de coisas referentes à ligação do adepto ao clube (nº jogos que viu a época passada, nº de sócio, nº de adepto dum cartão qualquer, etc), que me parecem correctas.

A partir deste momento, comecei a tremer com o que surgiu em seguida. É quase irreal, e provoca-me arrepios na espinha. Eis alguns exemplos que cito de memória.

1 - Rendimento mensal do agregado familiar;
2 - Quantidade e marcas de automóveis e quando pensa trocá-los;
3 - Banco com que trabalha e grau de satisfação;
4 - Se tem ligação à internet e qual o ISP;
5 - Nº de filhos, nome e data de nascimento (isto deve ser para mandar um cartão de parabéns, que eu tanto detesto);
6 - Seguradora com que trabalha e grau de satisfação;
7 - Que música gosta de ouvir?;
8 - Que estação de rádio sintoniza preferencialmente;
9 - Quais os seus hobbies?;
10 - Quais os seus desportos favoritos? (esta ainda é como o outro);
11 - Tem TV Cabo?;
12 - Tem Sport TV? Quantas horas vê de TV por dia?;
13 - Tem telemovel? Qual a sua rede?;
14 - Tem telefone da rede fixa? Qual o operador?;
15 - Onde e quando passa férias? Em que mês?;

E mais, muito mais. Só falta quererem saber a cor das cuecas e quantas vezes pratica sexo extra-matrimonial...Mas porque é que esta gente quererá estas informações, a não ser para invadirem a nossa caixa do correio (normal e electrónico, que eles também perguntam) com 1001 panfletos e propostas para nos sacaram o graveto, assim como sermos bombardeados com uma série de telefonemas para nos propor negócios e oportunidades "do outro mundo"?

E a parte pior estava para vir. A meio da coisa, vinha lá uma questão que me colocou com os cabelos em pé.

Quais destes espaços estaria disposto a frequentar, caso os mesmos existissem na Futura Catedral? Entre as opções existem coisas de bradar aos céus:

- Restaurantes
- Barbearia
- Agência de viagens
- Ciber-café
- Stand de vendas de automóveis
- Infantário
- Lojas de artigos desportivos
- Farmácia ?!?!
- etc

Por fim, incita-se o incauto adepto a sugerir que espaços deveriam haver no novo estádio. Comerciais subentenda-se...

Eu recuso-me a responder a questionários destes, por ver neles uma porta de entrada de inúmera publicidade indesejada (quando necessito de alguma coisa, eu próprio vou à procura dela e nunca por nunca comprei, nem virei a comprar, algo que me é proposto) e de violação da minha vida privada. E o Benfica, acho que não deveria seguir por este caminho.

Tal como já aqui referi anteriormente, aquando da inauguração do Mega-Urinol de Alvalade, com tanta coisa, será que se vai jogar futebol nestes espaços?

Só pelo facto de estarem agregados a um clube que deveria proporcionar a prática de desporto aos seus adeptos, sócios e simpatizantes, e não actuar como uma empresa eminentemente comercial, nunca irei utilizar nenhum destes espaços, mesmo que este clube seja o do meu coração. É que hoje em dia, parece que não há limites, nem código moral, para o marketing directo. Como diria o outro:

XIÇA!! PENICO!!!

PS: Lá bem no fundo, vem um quadradinho a sugerir, que caso não o desejemos, o SLB não transmitirá nenhuma destas informações a nenhum dos seus parceiros comerciais. Mas muito no fim, para ver se escapa aos olhares mais desatentos e permite a constituição de uma gigantesca base de dados dos benfiquistas, que deverá valer um bom dinheiro... Para onde vais, Benfica?