Escola de comportamento social Artur Jorge (ou a normalidade em estado puro e refinado)
Quando em apenas 3 dias, se pode abrir um qualquer jornal e ler o tipo de declarações que de seguida refiro, só posso chegar à conclusão (mais uma vez) que o nosso país atingiu um ponto a que se pode designar, sem grande dificuldade, o ponto de sem vergonhice absoluta. Senão vejamos:
"Alterava os relatórios de observadores/avaliadores de árbitros devido à minha maneira de ser e à preocupação em estabelecer uma forma de justiça relativa nas descidas e promoções de categoria."
Pinto de Sousa, ex-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (1983/89 e 1998/2004).
26-02-2007, Jornal de Notícias
"É prática normal e habitual os partidos terem contas paralelas, logo não cometi nenhuma irregularidade."
Fátima Felgueiras, presidente da Câmara Municipal de Felgueiras (1995/????).
27-02-2007, Correio da Manhã
Dois crimes, previstos e puníveis por lei, desculpados pelos acusados, com a maior das naturalidades, invocando a normalidade dos referidos procedimentos criminosos. Afinal, e como diria o "saudoso" Artur Jorge, é tudo perfeitamente normal, perfeitamente normal.
Ora, após intensa investigação histórica, a redacção do desBlogueador descobriu alguns antecedentes, de seguida resumidos, que podem constituir jurisprudência nestes casos, deixando os criminosos sair impunes das suas normais ilegalidades. E aqui estão eles:
"Bater na mãe é perfeitamente normal e um país não deve ser impedido de ser fundado só por causa disso."
Afonso Henriques, São Mamede, 1128
"Fazer notas falsas não passa de uma brincadeira normal, e não entendo porque não poderão ser utilizadas como todas as outras notas, desde que estejam bem reproduzidas."
Alves dos Reis, Lisboa, 1924
"Ora se até Deus, quando nos deu o terramoto, nos indicou claramente a necessidade de nos livrarmos desses inimigos de Deus, do rei e da pátria, não entendo o porquê de tais acusações relativamente a um processo tão normal quanto o dos Távoras."
Sebastião José de Carvalho e Melo, Oeiras, 1758
"Mandar portugueses de férias para o Tarrafal é perfeitamente normal, até porque se sabe que os ares equatoriais fazem muito bem ao tratamento de doenças pulmonares, nomeadamente a tuberculose."
António de Oliveira Salazar, Santa Comba Dão, 1967
"Matar fascistas ao tiro ou à bomba, pá, é perfeitamente normal, pá, ou não fossem eles contra a revolução, pá, do proletariado, pá, e inimigos da liberdade, pá, que nós vamos impor, respeitando o claro desejo do povo, pá!"
Otelo Saraiva de Carvalho, Caxias, 1985
"Fazer amor com criancinhas, a troco de dinheiro, é um acto perfeitamente natural e normal e não deveria ser só considerado legal como igualmente ser incentivado pelo Estado."
Jorge Ritto, Évora, 2004
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