Dominação

De quando em vez, aparecem nos mais variados desportos (quer individuais, quer colectivos), certos atletas que exercem tamanho domínio, quer ao nível dos resultados, quer pela forma aparentemente fácil como os atingem, que fazem parecer os seus adversários "meninos do coro". Fazem o adepto/espectador desse determinado desporto pensar, que a concorrência não está à altura.

Já presenciei ou ouvi relatos de algumas situações destas, como são exemplos Michael Jordan no basquetebol, Michael Schumacher na Formula 1, Lance Armstrong e Eddie Merckx no ciclismo, Edwin Moses na prova de 400 metros barreiras, Sergei Bubka no salto à vara, Steffi Graf no ténis, etc.

Nos tempos que correm, está a despontar mais um destes atletas no ténis masculino, na pessoa do suíço Roger Federer.

Mas é um outro "atleta", que ameaça criar uma nova categoria - a dos tipos-que-ganham-tanto-mas-tanto-e-durante-tanto-tempo, que para além de criar a monotonia, qualquer dia ninguém quer disputar nada com eles - que me motivou a escrever aqui esta linhas.

Tem 26 anos de idade, e no passado fim de semana, conquistou no GP da Malásia - a 4 provas do seu final - o seu 7º (sim, não me enganei, é o sétimo aos 26 anos de idade) título mundial de pilotos de motociclismo, 5º consecutivo na classe mais importante. Chama-se Valentino Rossi, é italiano e um destes dias, o "Rossismo" será sinónimo de muitas coisas nos dicionários do desporto, tais como: "domínio avassalador", "que é que os outros andam lá a fazer?", "mas quando é que ele desiste disto para se ver outros a ganharem", ou apenas "é o maior!".

Olhar para as estatísticas deste piloto, mostra claramente que fenómenos destes aparecem uma vez de 658.654 anos em 658.654 anos. Do "artista" em questão, os dedos duma mão, chegam e sobram para enumerar as corridas que não vi, ao longo de toda a sua carreira, no Campeonato do Mundo (todas as categorias incluídas). Vejo corridas de desportos motorizados há mais de 25 anos e garanto que nunca vi um talento natural como este, em nenhuma disciplina. E num tipo de provas em que os seres humanos fazem claramente a diferença - os anglo-saxónicos até chamam aos pilotos "Riders" em vez do tradicional "Drivers", para marcar bem esta situação - não admira que a Scuderia Ferrari - segundo rumores que apareceram este fim de semana no GP do Brasil - já o tenha tentado, com uma proposta de 60.000.000 de Euros, por um contrato de 3 anos na Formula 1, a partir da temporada de 2007. E sabem que mais, aposto o que quiserem, que ao fim do 3o ano - senão antes - ele limpava aquilo tudo!

Tentando não ser muito maçador, este jovem tem:

- 153 GP disputados, tendo alcançado 77 vitórias, 23 segundas posições e 13 terceiros lugares o que dá a bonita soma de 113 pódios (73,86% das corridas , coisa pouca portantos...) ;
- 40 poles positions e
- 65 voltas mais rápidas;

Na classe rainha tem:

- 92 GP disputados, em que alcançou 51 vitórias e 77 pódios (83,70%, ou seja a percentagem tem vindo a aumentar ao longo dos tempos...);
- 30 poles e
- 45 voltas mais rápidas.

Já contando com os números desta época (que ainda não terminou) tem:

1996 - 1 vitória em 15 corridas;
1997 - 11 vitórias em 15 corridas (Título Mundial de 125 c.c.);
1998 - 5 vitórias em 14 corridas;
1999 - 9 vitórias em 16 corridas (Título Mundial de 250 c.c.);
2000 - 2 vitórias em 16 corridas;
2001 - 11 vitórias em 16 corridas (Título mundial de 500 c.c.);
2002 - 11 vitórias em 16 corridas (Título Mundial de MotoGp);
2003 - 9 vitórias em 16 corridas (Título Mundial de MotoGp);
2004 - 9 vitórias em 16 corridas (Título Mundial de MotoGp);
2005 - 9 vitórias em 13 corridas (Título Mundial de MotoGp);

PS: Os meus parabéns para o espanhol Fernando Alonso, por bater também um record, o do mais novo Campeão do Mundo de Formula 1, mas não me parece que ele venha a ser um dominador desta estirpe, tanto mais que na sua geração considero o vice-campeão desta temporada um piloto mais completo, assim tenha material em condições (fiável) e ambos ainda estão uns degraus abaixo do tipo que "passou a pasta" esta temporada.