"Um post para lembrar a leucemia"
Respondendo ao apelo de "um post para lembrar a leucemia", lançado pela Aanes, quero partilhar convosco duas histórias:
Nunca tinha ouvido falar de leucemia, nem me lembro de quando ouvi esse nome pela primeira vez, mas lembro-me que sempre me disseram que a Zezinha (era assim que lhe chamavamos), era uma menina doente. A Zezinha era uma prima minha. Passei bons momentos na minha infância com ela. Apesar da minha mãe achar que a doença que ela tinha era contagiosa, por muito que o meu pai dissesse que não, nunca deixei de brincar com ela da mesma forma que fazia com as outras crianças. Mas de vez em quando ela passava grandes períodos no hospital e depois aparecia careca. Careca, com vergonha, mas cheia de vida.
Chegou à adolescência e a vergonha tornou-se maior. Mandaram fazer uma cabeleira postiça com os seus cabelos verdadeiros e era assim que ela regressava do hospital.
Lembro-me de um dia ir à igreja com ela, iamos confessar-nos (naquele tempo ainda fazia disso), e ela, na sua revolta chamou todos os nomes a possíveis e imaginários a Deus e disse que Ele nem merecia que ela se confessasse. Foi só nessa altura que me apercebi que ela, ao contrário do que toda a gente pensava, sabia muito bem que tinha uma doença mortal. Era leucemia. Um dia foi para o hospital e não voltou... pelo menos não voltou viva. E assim tomei contacto com aquilo que era a leucemia.
A Zezinha tinha 3 irmãos e nenhum era compatível. Até à data da sua morte nunca se conseguiu encontrar dador. Esteve muitos anos em permanentes idas e vindas do hospital, muitos anos em quimioterapia, e nunca se encontrou um dador porque, simplesmente, não havia. Porque as pessoas nem sabiam o que isso era. Talvez como hoje ainda não saibam.
A outra história é a do meu amigo Reguinhas. Era filho único e de um momento para o outro foi-lhe diagnosticada uma leucemia. Assustei-me. Já sabia o que tinha acontecido à minha prima, mas como a Zezinha viveu vários anos, pensei que ao Reguinhas fosse acontecer o mesmo. Mas não. Muito pouco tempo depois soube da sua morte. Ainda hoje guardo a imagem, no meu coração do Reguinhas. Tinha 11 anos, andava na mesma escola que eu, apanhávamos o mesmo autocarro e andava sempre, sempre com uma daquelas réguas de 60 cm de madeira a aparecer no canto da mochila...daí a alcunha Reguinhas.
Não sei se era isto que se pretendia com "um post para lembrar a leucemia", mas é esta a contribuição que posso fazer porque da doença pouco ou nada sei. Essa doença apenas a senti perto do coração.
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