Ora vamos lá experimentar isto nas criancinhas!
Através do blog do Pedro Ribeiro vim, ontem, a saber desta petição contra a TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário). Pelo nome pensei eu, estupidamente porque ando sempre a leste do que se passa, que se tratava de uma disciplina qualquer onde se usariam os termos linguísticos usados pelos alunos tentando assim obter-se uma aproximação entre professor e aluno e até sociedade e "miúdos". Claro que não assinei coisa nenhuma sem antes andar a pesquisar, saber do que se trata, formular uma opinião e fundamentar essa opinião. Assim, depois de muito ler sobre o assunto, depois de procurar opiniões a favor e opiniões contra (muito mais fáceis de encontrar),
formulei a minha opinião.
Sou a favor das mudanças quando elas são necessárias. Acho que, no que ao ensino diz respeito, são necessárias imensas mudanças, infelizmente, todas, ou quase, as que se têm implementado nas últimas décadas têm revelado ser para pior em vez de para melhor. Os conhecimentos linguísticos e gramaticais da generalidade dos portugueses (onde me incluo) são medíocres. A maioria das pessoas fala mal, diz coisas erradas e não conhece as regras gramaticais.
Quando me apercebi que a tal da TLEBS era uma mudança na gramática, vindo substituir a Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967, e das terminologias que se dão às coisas comecei por concordar. Pensei eu, erradamente novamente, que a "coisa" servia para simplicar a gramática e o entendimento da mesma, e para actualizar as terminologias gramaticais, de forma a termos uma gramática mais fácil de aprender e mais aproximada ao que dizemos e entendemos. Algo que considero que seria desejável. Claro que achei que o nome Terminologia Linguística para os Ensinos Básicos e Secundário, era um nome demasiado exagerado para uma mudança. A meu ver faria mais sentido fazer-se uma mudança com um nome do estilo Nomenclatura Gramatical Portuguesa Actualizada ou até Terminologia Gramatical Portuguesa Actualizada, pois seria uma actualização e não uma mudança total (nunca desejáveis). Porém, continuando a ler, vendo exemplos (a favor e contra) deparei-me com uma "gramática" ainda mais incompreensível, muito mais difícil e com nomes absolutamente estúpidos e (quase) impossíveis de memorizar (imaginem uma criança de seis anos a memorizar que o, até hoje, advérbio de modo supostamente, passa a ser classificado com o lindo nome de advérbio disjunto restritivo da verdade da asserção; eu tenho a certeza que não vou memorizar e me vou agarrar ao antigo nome advérbio de modo porque é mais fácil e me parece mais lógico.
Para além de todos os exemplos que podem ver-se de novas coisas a ensinar como correctas (perdoem-me gramaticais), e que anteriormente considerávamos erradas (perdoem-me, de novo, agramaticais), acresce o facto desta TLEBS ser fruto da investigação de um grupinho de linguistas iluminados, que consideram todas as pessoas que estão contra a mesma como retrógrados e ignorantes, grupinho esse que apresentou a proposta à ministra da educação em 2004 que prontamente achou que sim senhora, ora vamos lá implementar isto, porque o que o ensino de português está mesmo a precisar é de coisas que dificultem a aprendizagem ainda mais.
Assim sendo, vão as "nossas" criancinhas ser cobaias de experimentação durante 3 anos (felizmente as "nossas" mas não a minha, felizmente, que não irá ter idade para isso). Os resultados irão verificar-se no final dos três anos, indo os pobres dos miúdos do 12º anos, que lutam por uma boa média, ser avaliados mediante uma nova gramática sendo obrigados a esquecer 11 anos de estudo e investimento, para aprenderem, às três pancadas, toda uma nova terminologia e forma de classificar e avaliar as coisas (até tempos verbais como, por exemplo, "amanhã vou ao cinema" - Acham que o "vou" de "eu vou" é o presente do indicativo? Errado!!!!! passou a ser futuro, porque segundo a frase em que se insere é um futuro... e por aí fora).
Ou seja, durante os três próximos anos iremos ensinar às nossas crianças e jovens coisas como as descritas nos exemplos seguintes:
Cão: Nome comum, contável, animado e não humano (em vez do actual simples (ou mais simples) Substantivo masculino singular)
Os pronomes indefinidos passam a ser denominados de: quantificadores indefinidos, quantificadores universais e quantificadores relativos.
Os advérbios passam a chamar-se coisas como: advérbios disjuntos avaliativos, advérbios disjuntos modais, advérbios disjuntos reforçadores da verdade da asserção e advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção.
O sujeito indefinido passa a ser: sujeito nulo expletivo.
O aposto ou continuado chama-se modificador do nome apositivo, podendo ser do tipo nominal, adjectival, proposicional ou frásico...
Entre outros exemplos revoltantes (como passar a ser correcto dizer tu fizestes) que se podem encontrar nesta nova gramática erradamente designada de Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, uma vez que não vai ser usada só no ensino, pois não? é uma Terminologia Linguística para o uso do Português em geral e não para o ensino Básico e Secundário, tal como se pode ler neste artigo: "Pensou melhor quem propôs, em 1967, uma Nomenclatura Gramatical Portuguesa, porque as nomenclaturas, como as terminologias, servem todos os que as utilizam e não apenas aqueles que as aprendem compulsivamente na sua formação escolar. Se existir uma T.L.E.B.S., também tem de existir uma Terminologia Linguística para o Ensino Superior, uma Terminologia Linguística para o Ensino das Ciências, ou uma Terminologia Linguística para o Direito, para a Filosofia, para a Psicologia, etc."
Resumidamente, durante três anos, vão as nossas criancinhas ser sujeitas a uma experimentação linguística que pode ou não funcionar. Se não funcionar (como prevejo que aconteça) esquecemos toda esta experimentação global e voltamos ao antigo até nova mudança. Entretanto andam, durante três anos, as criancinhas a aprender coisas erradas e os jovens a ter de esquecer todo o seu investimento de estudo dos últimos 9, 10, 11 anos... Não me parece correcto. E como não me parece correcto, por todos os motivos acima apontados, assinei também a dita petição.
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