Portugal...ou a incessante saga de um país fanático
Portugal sofre de um mal: somos todos uns fanáticos compulsivos. A nossa sorte foi nascer sobre as "auspiciosas graças da santíssima Igreja Católica Apostólica Romana", e não sobre as "garras maléficas do Islão mau" e só nos dar para 'Fátimas', em vez de nos dar para abrigarmos o Bin Laden e acharmos a Al-Qaeda um agrupamento de "gajos porreiros" (e mesmo assim, o fanatismo anti-americano nalguma esquerda portuguesa tenta "compreender" actos com os de Londres, Madrid ou Nova Iorque).
Se assim fosse já teríamos tido aqui alguma acção de invasão por parte do “Grande Satã” que, bem vistas as coisas, é como nós cá no burgo vimos os americanos - esses sacanas que até ajudaram o Soares a impedir que o Companheiro Vasco nos oferecesse em glória à grande comunidade de Estados Soviéticos, que seria assim que estaríamos “mais melhor bem desenvolvidos”, está bom de ver – que por acaso são até o país que lá se chateia em ter um pacto de segurança connosco e que nos impediu, em meados do século passado, de ficarmos todos com uma distensão no braço direito de tanto termos de repetir a saudação nazi.
Depois, somos o único país da OCDE (ou seja, do grupo de democracias perfeitamente consolidadas) que apresenta essas singularidades intelectuais que se chamam trotskistas na assembleia do povo, representando hoje em dia quase 5% do “tecido eleitoral” português, somos o único país da chamada “Europa Ocidental” que tem um Partido Comunista formado e representativo, ainda daqueles antigos do tempo em que a Alemanha estava dividida em duas, uma boa e outra má, e que naturalmente cá para nós não é possível achar as duas más, temos sempre que ter um lado pelo qual torcemos.
Até porque, nestas e em tantas outras coisas, temos de ter sempre opinião, porque não achar nada, ou declarar-se não informado ou não conhecedor de algo é para mariquinhas, não daqueles do Chiado, mas daqueles ainda piores, os que não têm coragem de achar só por achar. À direita ainda é pior, porque se perde por falta de comparência - não há direita em Portugal. Há dois partidos de centro-esquerda, um deles mais “estatista” na sua concepção de economia e outro um bocadinho menos, mas também “estatista”, porque bem vistas as coisas os partidos vivem dos boys, sem estado não há boys, e o que seria de um partido português que chegasse ao poder e não arregimentasse logo umas boas dezenas de administrações de “empresas públicas”, esse conceito de economia tão original que qualquer caloiro desse curso poderá explicar que, ou bem que é empresa ou bem que é pública.
E depois há uma singularidade ainda mais bizarra no contexto europeu que é o CDS-PP. Partido da Democracia-Cristã? Mas qual, a da Sra. Merkel? Ou seguindo a linha de David Cameron? Ou será que é só pelo afortunado caso de defenderem eleições multi-partidárias e irem à missa todos os dias? Não há, a não ser a excepção de meia dúzia mal contada de blogues de relativo impacto, ninguém em Portugal que seja Conservador ou Liberal (no sentido anglo-saxónico do termo).
Por estes dias, o fanático que há dentro de cada um de nós rejubila porque vêm aí mais um exercício “plenamente democrático”, na forma de eleições presidenciais. Ora...alguém é capaz de apontar um candidato realmente de direita? Alguém é capaz de dizer uma razão para haver dois candidatos perfeitamente iguais na área do centro-esquerda? Ou para haverem dois líderes partidários a aproveitar os subsídios à campanha eleitoral e ao tempo de antena, para zurzir mais um pouco no governo, antes de se retiraram em debandada para ajudar a derrotar o outro “Grande Satã” deles, o tal tipo saloio que veio lá dos Algarves e que só percebe de economia e que, coitado, se calhar nunca leu Sartre e nunca caminhou para as gloriosas águas do Marxismo-Leninismo quando era novo.
Pela parte que me toca, eu vou ser como o Primeiro-Ministro (ou será que alguém duvida onde é que Sócrates já colocou a sua cruzinha?) e vou votar Cavaco. Sim, mas é porque ele é ligeiramente diferente. Não se preocupou com grandes fanatismos (e mesmo assim teve alguns) e fez alguma coisa. Pode ter feito erros, certamente que sim, mas não é fanático. Isso é motivo suficiente para ser merecedor do meu voto. Entretanto, aqui ao lado, em Espanha, as contas do Estado apresentam superavit, certamente porque eles vivem num planeta diferente e não têm de arcar com esse grande mal da "conjuntura externa" e apenas por isso podem crescer à vontade. Só nós por cá é que temos de sofrer, porque lá o petróleo, por exemplo, não aumenta na mesma medida do que cá, e já se sabe que isso é culpa dos imperialistas dos americanos que devem vir com ela fisgada para daqui a uns anos existir uma grande Ibéria.
Já agora, este post era para ser sobre a “guerra” de ontem sobre Moretto, mas isto da escrita já se sabe, perde-se o foco mais facilmente do que se perde o corrector ortográfico do Word... perdão, do OpenOffice, que nós cá temos de apoiar o Software Livre e sacar do eMule aquele pelo qual nos têm a malcriada ousadia de pedir dinheiro. Agora, e pedindo desculpas por ocupar tanto tempo das vossas fanáticas mentes, e esperando que exerçam sobre os meus devaneios algum fanatismo, na caixa de comentários adjunta a este post, peço-vos um último exercício. Substituam estas personagens (com os devidos apliques mentais de adaptação a um novo cenário de fanatismo) por SLB, FCP e SCP, LF Vieira, Pinto da Costa e Soares Franco. Somos ou não somos um país de fanáticos?
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