
Se assim fosse já teríamos tido aqui alguma acção de invasão por parte do “Grande Satã” que, bem vistas as coisas, é como nós cá no burgo vimos os americanos - esses sacanas que até ajudaram o Soares a impedir que o Companheiro Vasco nos oferecesse em glória à grande comunidade de Estados Soviéticos, que seria assim que estaríamos “mais melhor bem desenvolvidos”, está bom de ver – que por acaso são até o país que lá se chateia em ter um pacto de segurança connosco e que nos impediu, em meados do século passado, de ficarmos todos com uma distensão no braço direito de tanto termos de repetir a saudação nazi.
Depois, somos o único país da OCDE (ou seja, do grupo de democracias perfeitamente consolidadas) que apresenta essas singularidades intelectuais que se chamam trotskistas na assembleia do povo, representando hoje em dia quase 5% do “tecido eleitoral” português, somos o único país da chamada “Europa Ocidental” que tem um Partido Comunista formado e representativo, ainda daqueles antigos do tempo em que a Alemanha estava dividida em duas, uma boa e outra má, e que naturalmente cá para nós não é possível achar as duas más, temos sempre que ter um lado pelo qual torcemos.
Até porque, nestas e em tantas outras coisas, temos de ter sempre opinião, porque não achar nada, ou declarar-se não informado ou não conhecedor de algo é para mariquinhas, não daqueles do Chiado, mas daqueles ainda piores, os que não têm coragem de achar só por achar. À direita ainda é pior, porque se perde por falta de comparência - não há direita em Portugal. Há dois partidos de centro-esquerda, um deles mais “estatista” na sua concepção de economia e outro um bocadinho menos, mas também “estatista”, porque bem vistas as coisas os partidos vivem dos boys, sem estado não há boys, e o que seria de um partido português que chegasse ao poder e não arregimentasse logo umas boas dezenas de administrações de “empresas públicas”, esse conceito de economia tão original que qualquer caloiro desse curso poderá explicar que, ou bem que é empresa ou bem que é pública.
E depois há uma singularidade ainda mais bizarra no contexto europeu que é o CDS-PP. Partido da Democracia-Cristã? Mas qual, a da Sra. Merkel? Ou seguindo a linha de David Cameron? Ou será que é só pelo afortunado caso de defenderem eleições multi-partidárias e irem à missa todos os dias? Não há, a não ser a excepção de meia dúzia mal contada de blogues de relativo impacto, ninguém em Portugal que seja Conservador ou Liberal (no sentido anglo-saxónico do termo).
Por estes dias, o fanático que há dentro de cada um de nós rejubila porque vêm aí mais um exercício “plenamente democrático”, na forma de eleições presidenciais. Ora...alguém é capaz de apontar um candidato realmente de direita? Alguém é capaz de dizer uma razão para haver dois candidatos perfeitamente iguais na área do centro-esquerda? Ou para haverem dois líderes partidários a aproveitar os subsídios à campanha eleitoral e ao tempo de antena, para zurzir mais um pouco no governo, antes de se retiraram em debandada para ajudar a derrotar o outro “Grande Satã” deles, o tal tipo saloio que veio lá dos Algarves e que só percebe de economia e que, coitado, se calhar nunca leu Sartre e nunca caminhou para as gloriosas águas do Marxismo-Leninismo quando era novo.
Pela parte que me toca, eu vou ser como o Primeiro-Ministro (ou será que alguém duvida onde é que Sócrates já colocou a sua cruzinha?) e vou votar Cavaco. Sim, mas é porque ele é ligeiramente diferente. Não se preocupou com grandes fanatismos (e mesmo assim teve alguns) e fez alguma coisa. Pode ter feito erros, certamente que sim, mas não é fanático. Isso é motivo suficiente para ser merecedor do meu voto. Entretanto, aqui ao lado, em Espanha, as contas do Estado apresentam superavit, certamente porque eles vivem num planeta diferente e não têm de arcar com esse grande mal da "conjuntura externa" e apenas por isso podem crescer à vontade. Só nós por cá é que temos de sofrer, porque lá o petróleo, por exemplo, não aumenta na mesma medida do que cá, e já se sabe que isso é culpa dos imperialistas dos americanos que devem vir com ela fisgada para daqui a uns anos existir uma grande Ibéria.
Já agora, este post era para ser sobre a “guerra” de ontem sobre Moretto, mas isto da escrita já se sabe, perde-se o foco mais facilmente do que se perde o corrector ortográfico do Word... perdão, do OpenOffice, que nós cá temos de apoiar o Software Livre e sacar do eMule aquele pelo qual nos têm a malcriada ousadia de pedir dinheiro. Agora, e pedindo desculpas por ocupar tanto tempo das vossas fanáticas mentes, e esperando que exerçam sobre os meus devaneios algum fanatismo, na caixa de comentários adjunta a este post, peço-vos um último exercício. Substituam estas personagens (com os devidos apliques mentais de adaptação a um novo cenário de fanatismo) por SLB, FCP e SCP, LF Vieira, Pinto da Costa e Soares Franco. Somos ou não somos um país de fanáticos?
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