The real thing!

Não sei muito bem porque razões em concreto, mas jogos de futebol entre Benfica e Sporting, na penúltima jornada de campeonatos, têm sido "o pão nosso de cada dia", nos últimos 25 anos. Sem grandes preciosismos, sou capaz de afirmar que houve pelo menos 10 jogos destes, neste período de tempo, disputados na penúltima jornada. Infelizmente, numa primeira fase por obra e graça da "travessia do deserto" leonina e, mais recentemente, pela nossa - que ainda continua - nenhum deles teve até hoje o cariz que o do próximo dia 14 de Maio vai ter. Este vai ser sem dúvida o mais importante e decisivo de que tenho memória.

Anteriormente, nos jogos que referi, ocorreu sempre uma de duas situações: ou apenas um dos intervenientes tinha aspirações ao título ou nenhum deles tinha hipóteses de conquistar o que quer que fosse.

Para mim este foi, é, e será sempre, o jogo do ano. Já vi dezenas deles ao vivo - curiosamente acho que até mais em Alvalade do que na Luz - e de uma coisa estou certo. Este jogo é uma autêntica roleta russa, como sempre foi. Neste jogo não vai interessar para nada que jogue o jogador X ou Y. Que A ou B joguem mal ou bem. Que tacticamente uma equipa seja mais evoluída, ou que a outra esteja melhor fisicamente. Neste jogo que aí vem tudo, mas mesmo tudo, pode acontecer. Esta estranhíssima época futebolsítica já nos mostrou de tudo um pouco, mas ainda não chega aos calcanhares do que eu já vi em "derbies" da 2ª Circular.

Assim por alto, e fiando-me unicamente na minha enciclopédica memória futebolística:

- Já vi o Benfica perder 4-1 (parece que foram mais, mas eu só vi 4...) em Alvalade, sendo esta a única derrota da equipa nessa época;
- Já vi uma equipa marcar 3 golos e perder 2-1;
- Já vi o Benfica ganhar, na Luz, 5-0 ao Sporting por duas vezes, sendo que na primeira o resultado foi obtido nos primeiros 45 minutos de jogo;
- Já vi o Sporting ganhar 2-1 na Luz, na penúltima jornada (curiosamente na última o Benfica também se deslocava ao Bessa) e entregar assim o título numa bandeja ao FCP, ouvindo-se sonoramente nos altifalantes do estádio, após o apito final: "Vamos todos ao Bessa festejar o título!", quando o FCP ía receber o Sporting da Covilhã, último classificado, a precisar somente dum empate;
- Já vi Keith Burkinshaw, treinador do Sporting, perder por 2-1, na Luz - na penúltima jornada - e ir festejar o título do Benfica na cabina do adversário;
- Já vi o Glorioso a fazer "a mãe de todas as exibições miseráveis" e ganhar 1-0 em Alvalade, golo do "faraó" Sabry, aos 89 minutos;
- Já vi o Benfica ganhar 3-0 em Alvalade com o resultado em 0-0 aos 82 minutos;
- Já vi, na minha primeira deslocação a este mais recente estádio do Sportem, o Benfica a tirar mais um coelho da cartola aos 89 minutos, cortesia de Geovanni;
- Já vi golos aos 12 segundos de jogo;
- O primeiro jogo de futebol que vi na minha vida, ao vivo, foi uma eliminatória da Taça em Alvalade, que o Sporting ganhou 2-1 no prolongamento;
- Já vi um jogo decidido por marcação de pontapés da marca da grande penalidade;
- Em 14 de Maio - curiosamente a mesma data deste próximo - de 1994, lá estava eu, no Topo Norte do antigo estádio do Sporting, a ver o "jogo da vida" de João Pinto, Isaías e Cia., nos famosos 3-6, que quase nos asseguraram o nosso último troféu;
- Já vi o Sporting a ganhar 3-1 na Luz, com variados "mergulhos para a piscina";
- Já vi o Benfica a carimbar um título com o Sporting (na penúltima jornada mais uma vez), ao empatar 1-1 na Luz;
- Já vi guarda-redes a agredirem avançados, numa dinâmica de puro pugilato;
- Já vi Michael Thomas (o pior jogador que algum dia vi a envergar a camisola do Glorioso) a ser o melhor jogador em campo;
- Já vi um jogo, em Alvalade, a abrir o campeonato em que os espectadores eram tantos que estavam, no máximo, a um metro das linhas do campo (perdemos 3-0);
- Já vi o Benfica ganhar outro título, na penúltima jornada, contra o velho rival, ganhando por 1-0, em que Bento defendeu um penalty e falhou outro;
- E já vi um cacho de jogadores e até o árbitro do encontro, de "cú para o ar", minutos a fio, à procura de um brinco hiper-ultra valioso...

Assisti, portanto, a coisas do arco-da-velha, e sempre com o coração aos pulos, porque este jogo são 90 minutos de uma ansiedade quase sem limites. Não faço a menor ideia do que vai acontecer no Sábado. Somente espero que corra tudo dentro da possível normalidade, como é salutar hábito (infelizmente um dos mais negros episódios do futebol português ocorreu numa final da Taça entre estas 2 equipas) e que ganhe o Glorioso, jogando bem ou mal. Que ganhe nem que seja por 1-0, aos 94 minutos, com um golo marcado inadvertidamente, por um qualquer jogador de campo (mesmo que seja Paulo Almeida), ou inclusive pelo árbitro.

Porque, como disse um dia Mário Jardel (esse tipo que um dia empatou um destes jogos na Luz com um golo em off-side e outro num penalty de bradar aos céus):

"Derby é derby e vice-versa!"