sábado, outubro 23, 2004

A censura

A censura anda por aí...qualquer dia somos nós!Toda a gente sabe que este tipo de coisas acontecem, infelizmente pouca gente denuncia ou, mesmo que o faça, de pouco adianta. Porque fiquei indignada (mas não surpreendida), e porque acho que se deve alertar para tentar mudar mentalidades e prevenir situações futuras, aqui fica mais uma denúncia que foi publicada no Público:

"A Propósito de Marcelo Rebelo de Sousa... Quinta-feira, 21 de Outubro de 2004

Vem isto a propósito do caso do prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do litoral-centro (distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um simples cidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974. E como cidadão, ingénuo, a pensar que haveria liberdade de expressão e de opinião, criei em Julho passado um "blog" na Internet que pretendia ser um espaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas sobre o que está a acontecer na minha terra. Nomeadamente sobre a actividade da respectiva câmara municipal e outras instituições.
Esse "blog", num espaço de dois meses, registou mais de 6.700 visitas, tendo sido comentado em grande número por outros cidadãos/munícipes. A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata eng. Narciso Mota, nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que alguns dos temas abordados tinham a sua veracidade, alterando alguns procedimentos dando assim razão ao que por lá se escrevia.
Reconhecendo que o "blog" era incómodo para o poder (leia-se, câmara municipal), o senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o "contraditório" era acabar com o mesmo. Vai daí, entrou em contacto com a direcção/administração da empresa onde eu trabalhava e denunciou a sua existência, fazendo ver que o "blog" era "gerido" em horas de expediente.
A direcção da empresa, de imediato, e justificando que aquela situação lesava a relação institucional com a câmara municipal, até porque necessitava desta para legalizar algumas situações pendentes, despediu-me. Isto não argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade, mas sim porque o senhor presidente da câmara assim os contactou para o efeito. Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o "blog", o que foi feito e aceite.
Precisamente um mês depois, e com alguns encontros realizados entre o presidente da câmara e a direcção/administração da empresa pelo meio, fui novamente confrontado com o despedimento. E, perante duas opções - instauração de processo disciplinar ou demissão voluntária -, optei pela segunda.
Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara Municipal de Pombal neste processo é um facto. Tanto o é que um dos seus vereadores afirmou perante algumas pessoas que "já acabámos com o 'blog'".
Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas com um senão - o meu futuro. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses para criar, casa e carro para pagar. E esposa também desempregada. E tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador: "reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o senhor presidente da câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu não quero ter problemas com esse senhor".
É triste que 30 anos depois de uma revolução ainda haja quem, de uma forma nojenta e vergonhosa, censure as vozes discordantes para que estas não expressem livremente as suas opiniões.
Orlando Manuel Cardoso
Pombal
in PÚBLICO, 21/10/2004"

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