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Todos os anos, aquando da apresentação da minha declaração de IRS na instituição de crédito que financiou a aquisição da minha casa, não consigo encontrar o comprovativo da liquidação do imposto. E então lá vou eu na minha excursão anual até ao Ministério das Finanças - Direcção Geral de Contribuições e Impostos, buscar uma declaração que substitua o atrás referido.
Quando ontem chegou a minha vez, fui confrontado com a obrigação de despender € 3,60 para obter tal declaração. Até aqui tudo bem! Eu tinha a obrigação de saber onde se encontrava o comprovativo. Acedi (que remédio) e tiro da carteira uma nota de € 20 para pagar.
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- Hem? Como assim?
- Não tenho trocos! Tem que pagar com a quantia certa!
- Não tem troco? Mas acabou-se?
- Não! Não temos caixa. Tem que entregar a quantia certa.
- Como não tem trocos?
- Não tenho.
- Pois, estou a ver. Mas ainda não recebeu nada hoje?
- Isso não interessa!! Tem que entregar 3,60 euros certos!
- Mas não recebeu nenhum dinheiro hoje ou não tem troco?
- Que lhe interessa se eu recebi ou não? Tem que entregar 3,60 euros certos.
- Pois, isso já percebi! Bom, então tenho que ir lá fora tentar trocar!
- Olhe que depois tem que tirar outra senha, se faz favor!
- Como? Outra senha? Mas eu vou só lá fora tentar trocar o dinheiro. Volto já!
- E o que é que acha que as outras pessoas que estão atrás de si vão pensar?
- Não sei...Eu no lugar delas não me importava que, alguém na minha situação, passasse à minha frente.
- Pois, isso tem que perguntar-lhes. Não se esqueça que tem de ser 3,60 euros certos!
- IRRA! Já percebi. São 3,60 euros.
E lá fui eu para a rua. No primeiro quiosque, o Sr. que lá estava já nem podia ouvir falar em trocar dinheiro para a DGCI. Andei mais uns metros e na primeira loja a resposta foi a mesma.
Moral da história. Só ao 4º estabelecimento comercial me tocaram a nota e lá voltei para o altar da burocracia. Lá chegado, avancei de pronto e estendi os "famosos" € 3,60 à senhora que lá estava.
- Eu não vou tirar outra senha!! Tome lá os 3,60 euros e dê-me cá a minha declaração.
- Mas já perguntou às pessoas se podia passar à frente delas?
- Não, nem vou perguntar. Com aquilo que já conversámos, já tinha tempo de aceitar o dinheiro e dar-me a declaração.
- Eu tenho ordens para não permitir situações destas!!
- ...
- Se quer a declaração, tire outra senha!
- ...(grrrr)...
- Sente-se lá e deixe-me atender esta senhora.
- ...(grrrrrrrrrrrr)...
Não vou contar o resto, porque me tornei num ser agressivo e mal-educado, e após uma berraria dos diabos (que chamou a atenção de todos os presentes e até do Segurança), lá consegui que a senhora que estava a ser atendida anuísse, em que a minha declaração fosse passada, enquanto ela esperava, e lá vim eu todo "satisfeito" com o meu mísero papelinho arrancado a ferros àquela autêntica doutorada na "Arte de Burocratizar e Irritar o Cidadão Incauto".