segunda-feira, janeiro 15, 2007

Estado de Choque

Os maiores quê???As grelhas de programação dos canais generalistas portugueses fizeram de mim, há muitos e muitos anos, um espectador muito fugaz dos ditos. Não há pachorra para aquilo, meu amigos. Não há pachorra para grelhas feitas a pensar em pensionistas e adolescentes, e assim entrei directamente no clube do milhão de espectadores que estes canais perderam nos últimos 10 anos. De quando em vez, lá ouço falar de um programa, que eventualmente poderia captar a minha atenção.

Foi o caso deste "Os Grandes Portugueses". Até votei, confesso. Neste fim de semana, como não vejo os ditos canais, não acompanhei as emissões que foram efectuadas na RTP1. Hoje de manhã, olho para a lista dos 10 finalistas seleccionados e voltei a lembrar-me porque razão deixei de ver televisão. Está tudo doido, só pode! A presença da grande maioria destes "Grandes Portugueses" prova mais uma vez - como se tal fosse necessário - que a TV em Portugal está pelas ruas da amargura, e que os portugueses andam a fumar grandes doses de coisas que os metem a dizer "Iáááááááááááááááá, Méne...".

Uma TV decente borrifava-se para os votos recebidos e fazia a sua própria lista, baseada no critério do porteiro, que decerto que seria algo de muito mais digno.

Eis a lista:

D. Afonso Henriques - Um candidato óbvio. A malta passa o tempo a dizer mal disto, mas não queremos outra coisa. Não tivesse este tipo existido e apesar de haver uma forte possibilidade de andarmos hoje em dia todos a dizer "por supuesto" e a ver filmes em que o Robert de Niro tem uma voz parecidissima com o Eládio Clímaco, também me parece óbvio que viveríamos muito melhor. Mas não, o "fundador" da Pátria, tinha que ser escolhido.

D. João II - Mais um digno representante da classe dos inúteis. Falo dos monarcas, claro. Eu nem estava muito bem a ver quem tinha sido este chouriço, mas parece que foi ele que levou um grande barrete dos espanhóis, quando assinou o célebre "Tratado de Tordesilhas". E parece que também plantou umas margaridas num canteiro do seu palácio, no intervalo de tórridas sessões de sexo com a Condessa de Tomar e serões de cravo e lira.

Luís de Camões - O candidato preferido dos "Verdadeiros Portugueses" e dos que adoram esta língua confusa e estupidamente desregrada que é a nossa. Mal-amado ou a morrer de amores, desgraçadinho (vidé acidente militar) e poeta que afoga as mágoas no álcool. Eis a génese de gerações e gerações de fadistas, em pleno Séc. XVI, na figura deste zarolho que tantos fãs tem. Assim por alto, muito gostava eu de saber quantas pessoas no Mundo já se deram ao trabalho de ler aquela estucha... Eu já tentei, mas confesso que aquilo é CHATO. Muito chato. Há que louvar o trabalho, sim senhor, mas vamos lá a ver bem as coisas. O senhor escreveu um calhamaço do caraças, que basicamente ninguém lê. Consta que quando acabou de ler as duas primeiras páginas dos Lusíadas, o monarca português da altura, lhe deu umas palmadinhas nas costas, dizendo-lhe :

"É pá, sim senhor, isto deve ter dado trabalho do camandro, mas agora vai ali ver com estão aquelas margaridas que eu plantei naquele canteiro, enquanto eu vou dar aqui um passeio com a Condessa de Tomar."

Infante D. Henrique - Outro candidato óbvio. O candidato dos que ainda pensam que a odisseia dos Descobrimentos Portugueses foi uma realidade e acima de tudo que o mundo dá muito valor a isso. Dizem que foi o mentor desta aventura. Bela porcaria em que nos meteste pá! Se não fosses tu, não tínhamos andado no Brásiu, em África e sei lá mais onde. Não havia tanta gente a falar português, para sua grande alegria e sanidade mental, nem havia por cá tantos emigrantes destes países que nós fomos "descobrir". Consta que ele foi para Sagres porque o pai o mandou. El-Rei D.João I, disse-lhe:

"Ó filho, e eu quero lá saber dessa porcaria em madeira que flutua no riacho! Não me chateies a cabeça! Olha, vai dar uma voltita ali para baixo, que eu agora quero conversar aqui um pouco com a Condessa de Tomar."

Bem mandado o pequeno Infante, foi andando até onde podia e só parou em Sagres.

Vasco da Gama - Candidato do Alentejo esclarecido. O "descobridor" do caminho marítimo para a Índia (grande coisa pá. A Índia é que nunca se deu ao trabalho de vir cá ter connosco, porque sabia muito bem o petisco que lhes tocava) e grande responsável pela manifestação de repúdio a Cavaco Silva que ontem teve lugar em Goa. Consta no entanto que Vasco da Gama, fugiu da corte de el-Rei, porque tinha sido visto a apanhar margaridas do canteiro do Rei, na companhia da nossa conhecida Condessa de Tomar. Num ápice, desatou a correr que nem um perdido, perseguido pela Guarda Real e chegado ao cais de Belém, meteu-se no primeiro barco que viu e gritou:

"Ó Abre, que se faz tarde!"

O mestre do navio, assustado com a força perseguidora, deu ordens para zarpar e o resto é história.

Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) - Candidato do MPCAUPaADP - Movimento Popular Contra A Utilização da Palavra "ao" Antes da Designação da Localidade Pombal. Grande impulsionador do uso de mais do que dois nomes por parte de figuras públicas e como tal uma grande referência em partidos da direita (que também não se contentam com 2/3 iniciais), assim como em certas agremiações desportivas. Carrasco dos Jesuítas e grande planeador da baixa lisboeta. Se quanto à primeira obra lhe temos que estar gratos, já o mesmo não se pode dizer desta última. Tivesse o senhor um pingo de lucidez e tinha mas é dito para os seus botões, o seguinte:

"Olha, deixa-me mas é cá aproveitar esta tragédia e pegar fogo ao resto. E vamos mas é construir a capital, sei lá, ali para os lados do Cadaval, que a malta do Metropolitano ainda um dia nos há-de agradecer não ter que fazer túneis em locais com demasiado lodo! E já agora, passa-me aí mais uma ginjinha, ó Condessa!"

Fernando Pessoa - O candidato dos funcionário das finanças e dos indecisos. Outro poeta, mas este a representar todos aqueles que são tímidos e gostam de um certo anonimato. Ora tanto assinam José Manuel Faria, como assinam Francisco Teixeira ou Carlos do Carmo, ou aquilo que muito bem quiserem. Não me espanta a sua presença aqui, tanto mais que todos sabemos muito bem que se não fosse Fernando Pessoa, ainda hoje não havia Auto-Estrada para Espanha, nem aeroporto em Lisboa.

Aristides de Sousa Mendes - O candidato dos que andam sempre chateados e a resmungar. Foi o candidato em quem votei. Acho sempre interessante um tipo estar dentro do sistema e às tantas, "passar-se para o lado do inimigo" e mandar tudo às malvas. O candidato de malta que acha que pode mudar o mundo e lutar contra as injustiças. O candidato que foi contra as ordens do chefe. Ou seja o candidato dos palermas e dos tansos. O candidato que nunca ouviu falar da Condessa de Tomar.

António de Oliveira Salazar - O candidato de todos aqueles que se sentem inseguros. O candidato de todos aqueles que acham que deveria haver um Salazar em cada Junta de Freguesia. O candidato dos rigorosos e dos isentos. O candidato das meias-solas nos sapatos. O candidato que mandou a Condessa de Tomar para o Tarrafal. Em suma, o candidato dos hipócritas.
Eu até acho que, numa perspectiva puramente histórica, Salazar é o grande estadista português do século XX, mas quer-se dizer... Como diria o outro: "não havia necessidade, meus amigos!!!"

Álvaro Cunhal - Quem?

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