domingo, março 27, 2005

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Como sair de casa para tratar do que não foi tratado, voltar ao local de onde se tinha saído e ficar sem chaves com cocó a cheirar a merda:

Ontem saí de casa. Isto é coisa tão rara que é motivo para festejar com um post. Lá fui eu à loja do cidadão para acabar por não fazer nada porque não tinha uma certidão necessária. Decidi ir dar uma voltinha. Falam-me de um shopping center que havia ali perto da marina do Funchal. Lá fui. Carrinho de bebé à frente decido ir para o Shopping. Decido mas não vou porque há quem decida que quem anda com carrinhos ou, mais grave ainda, cadeira de rodas, por exemplo, não pode ter acesso ao shopping visto o mesmo se situar numa cave com escadas, sem serem rolantes (o que resolveria o problema carrinho de bebé, mas não o problema cadeira de rodas). Olhei para o lado em busca de elevadores. Lá estavam eles com um aspecto tão, mas tão, velho que tive medo de entrar. De qualquer modo experimentei. Resultado: um elevador tinha um papel a dizer avariado, e o outro nem se mexia. Desisti. Lá fui eu, rua abaixo (não perguntem o nome da rua, mas era movimentada), para descobrir que este Portugal é muito mau para quem anda com rodas. Entrei numa galeria comercial em busca de casas de banho. A sinalização levou-me à casa de banho de deficientes. Perguntei ao segurança pelas normais, disse-me que eram "lá em baixo" mas deu-me as chaves daquelas porque só havia escadas rolantes para baixo e, além disso, as casas de banho eram tão pequenas que eu teria de deixar o bebé cá fora... estava fora de questão.
Decidi ir comprar o jornal e, depois de comprado, vejo, com alegria, na capa a notícia "Gato Fedorento «aliviado» - Os protagonistas do "Gato Fedorento" confessaram os Diário o «alívio» pelo facto de a política e os políticos madeirenses estarem... na Madeira!". É um jornal que promete, logo que tenha tempo para o ler.
Descobri que na Madeira as farmácias fazem concentrações. Sempre que havia uma, havia logo outras duas. Descobri também que os gajos bons emigram todos (ainda não consegui ver nenhum desde que cá estou). Descobri que as obras são iguais em todo o país: ocupam o passeio todo de modo a que, quem anda de rodas, tenha de ir dar a volta a cascos de rolha, e toda a gente sabe que cascos de rolha não é uma zona muito aconselhável.
Lá ia de regresso ao local onde deveria estar, mas tinha, primeiro de o encontrar por ruas que não aquela de onde tinha vindo. Dei voltas e voltas, e decidi voltar à estrada de onde tinha vindo para ir pelo caminho que conhecia, para chegar à conclusão que, antes de ter decidido voltar à estrada já estava no local para onde tinha de ir mas, como estava convencida que não era ali, não o reconheci. Assim, andei mais de 500 metros para voltar ao local de onde tinha acabado de sair...
Chegada lá, a bebé decidiu que a chorar é que a gente de entende. E a pessoa com quem ia ter estava em reunião, estando a sala que eu precisava para dar mama e mudar fralda ocupada com a dita. Lá voltei para a rua. Fui dar uma volta de outros 500 metros para acabar parada num jardim que estava a menos de 50 do local de onde tinha acabado de sair. Decidi que iria dar mama no jardim. Olhei em volta e o ambiente não era o melhor. Pensei que os Madeirenses do jardim tinham muito mau aspecto, mas acabei por ignorar o facto e dar mama assim mesmo. De repente senti que estava nos saudosos (para mim), jardins do palácio no Porto, isto porque ouvia. "num te ponhas a dormire , carago!" e "Oube lá, pá!"... reparei então que os madeirenses com mau aspecto eram malta do norte que estava de viagem à Madeira e já não devia ver a cama ou chuveiro (principalmente chuveiro) há vários dias estando com uma besana, também de vários dias, em cima. Senti-me em casa (uma casa antiga, mas casa).
Enquanto dava mama ouço, e sinto, algo a correr na fralda do bebé. Depois de acabada a reunião fui para a dita sala e decidi mudar a fralda chegando à conclusão que, desde que o bebé anda a comer papas, o seu cocó deixou de cheirar a cocó e passou a cheirar a merda... e com este pensamento retornei a casa...
Claro que a história não podia terminar com chegar a casa, entrar, lanchar, descansar, etc... Não! claro que não. Chegada a casa descobri que nem eu, nem ele, tínhamos chaves. Assim fiquei à porta de casa à espera mais de 15 minutos até que ele voltasse ao local de onde tínhamos acabado de sair, para ir buscar as chaves e regressasse a casa com as mesmas...
Digam lá que a minha vida não é uma emoção?

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