domingo, dezembro 28, 2014

Quantos empregos criou o Daniel Oliveira?


Li uma crónica do Daniel Oliveira onde o referido senhor mencionava que ele teria criado tantos postos de trabalho como o Balsemão ou qualquer outro empresário...
Ao ler os motivos que o levavam a afirmar não pude deixar de pensar que Daniel Oliveira é muito cheio de si mesmo e acha que tem muito mais importância para o mundo, e para o jornal onde trabalha, do que aquela que, na verdade, tem. Na verdade pareceu-me que Daniel Oliveira considera que, caso ele deixe de trabalhar para o Expresso, o mesmo perde boa parte dos leitores que possui porque, esses leitores, compram o expresso por sua causa.
O problema de argumentos como os do Sr. Oliveira é que não olham para o panorama global e sim para o seu umbigo e a sua vida pessoal e acham sempre que são pessoas muito importantes no panorama global. Não somos, nenhum de nós é. Se eu agora deixar de trabalhar para os meus clientes, que gostam muito do meu trabalho, nenhum deles entra em depressão e deixa de saber o que fazer, qualquer um deles, depressa, arranja substituto para fazer o mesmo que eu faço... O mesmo acontece com quase qualquer outra pessoa no mundo. Todas são substituíveis e, a maior parte de nós, com muita facilidade (poucas são difíceis de substituir).
Ora, na minha vida a minha filha é a pessoa mais importante do mundo. Não tenham dúvidas. Por ela morria e matava. Mas, no panorama global, a minha filha tem tanta importância como qualquer outra criança. Na escola dela há pessoas para quem ela tem mais importância e pessoas para quem não interessa nada. O mesmo se passa com todos nós. Eu sou uma das pessoas mais importante do mundo de quem me ama, mas muita gente não hesitaria em matar-me se isso salvasse a vida de outra pessoa "mais importante do mundo". Somos todos insignificantes no panorama geral, mas todos temos importâncias diferentes no panorama particular de algo. 
Voltando ao Expresso. O Daniel Oliveira há-de ser importante para alguns leitores e, por isso, terá sim alguma importância para o Expresso (ou já não estaria lá), mas não faria grande mossa no panorama geral do jornal se o Daniel Oliveira se despedisse. O jornal iria, com toda a certeza, continuar com o mesmo sucesso que até aqui e, provavelmente, seria muito fácil substituir o Daniel Oliveira por outro qualquer cronista com ideia semelhantes (o que não falta para aí é gente a escrever bem com ideias semelhantes às do Daniel Oliveira). 
Por isso quando o Daniel Oliveira afirma: "criei tantos postos de trabalho como qualquer trabalhador, consumidor ou empresário" deu-me vontade de rir... Não! não criou Daniel, não criou. Alguém criou uma empresa para onde o Daniel só teve de candidatar-se. Alguém lhe paga o ordenado porque gosta do resultado do que o Daniel faz e, enquanto assim continuar, o Daniel continuará a receber o ordenado. Mas acredite que o Balsemão não ia entrar em depressão se o Daniel se despedisse do Expresso e depressa arranjaria substituto. Sim, se o Daniel não se tivesse candidatado a essa empresa o Daniel não tinha o SEU posto de trabalho. Ponto final. Fora isso nada mais fez. Se o Daniel não fosse o cronista do "Antes pelo Contrário" outra crónica, com outro autor, surgiria no mesmo espaço que o Daniel ocupa (por isso continuaria a existir o mesmo número de postos de trabalho o que faz com que o Daniel não tenha criado nada para o panorama geral, apenas para a sua vida particular). Isso só não aconteceria se quem investiu, arriscou, pensou, idealizou e criou o Expresso não o tivesse feito... Isso não existiria se quem hoje investe no Expresso deixasse de o fazer. E sim, essa pessoa, para o "universo Expresso" é a mais importante, todas as outras são peões substituíveis. É isto que tem de ser entendido em vez de andarmos todos cheios de nós mesmos a acharmos que somos insubstituíveis e a exigir o que não pode ser dado porque, sem nós (em particular) não havia lucro... havia... não havia connosco, havia com outra pessoa qualquer que nos substituía.

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