A pré-época
Chegou hoje ao fim aquela que foi a pior pré-temporada do Benfica dos últimos anos (e nem sei se não inclua aqui as temporadas de Vale e Azevedo).
Tudo começou quando Luís Filipe Vieira se auto-convenceu que podia gerir a máquina do futebol encarnado sozinho, sem ajuda de um gestor de futebol. Ora, Luís Filipe Vieira, como o próprio assume, percebe tanto de futebol como eu de gestão de oficinas de automóveis.
E eu que julgava que o tempo do amadorismo e da “entrega” já tinha acabado no Benfica, mas aparentemente não. Começou logo a pré-temporada prometendo algo que qualquer pessoa sabia que dificilmente se iria concretizar: todos os jogadores que entraram ao serviço no primeiro dia só sairiam do clube caso alguém se chegasse à frente com a cláusula de rescisão. Ora, houve pelo menos dois casos (agravados por mais dois – Anderson e Miccoli – é impensável que se deixe a opinião pública à espera de um jogador por tanto tempo): Simão (saiu por menos 5 milhões que o prometido) e Manuel Fernandes (saiu por menos 9 milhões que o prometido, já que nunca ninguém falou em 9 milhões como cláusula, mas sim em 18).
Comprou-se à grande, jogadores que nem sei para o que servirão: Diaz (que veio atrelado a Di Maria), Streten (que, pasme-se, nem foi inscrito na Bwin Liga), Walter (guarda-redes brasileiro emprestado ao Olhanense), Dany (ex-júnior do Leixões), Jaílson (ponta de lança que o Braga usou contra o campeão nacional) e Gillas (médio emprestado ao Amadora).
E dos 14 que formaram o núcleo da temporada passada sobram: Quim, Nelson, Luisão, David Luiz, Leo, Petit, Katsouranis, Nuno Assis, Rui Costa, Nuno Gomes, tendo saído o Anderson, o Simão, o Karagounis e o Miccoli.
Certo que se compraram jovens que numa primeira fase (e porque não temos a estrutura de apoio que o Sporting tem) deviam jogar às mijinhas para ganhar confiança: Di Maria (desde quando é que se acha que um miúdo de 19 anos pode substituir o Simão?), Adu (claramente neste primeiro ano na Europa devia jogar tipo 10 jogos e nunca ser lançado às feras logo no 1º jogo), Coentrão (o facto de Simão ter saído pode cortar-lhe a carreira por completo – estou certo que o ex-capitão seria muito útil na passagem de conhecimento a este lingrinhas) e promoveu-se (até ver) o chinês Dabao.
De reforços “seniores” vieram 5: Butt (para 3º guarda-redes), Zoro (bom defesa-central para o banco), Luís Filipe (se não fosse lançado às feras depois de 10 dias de treino estou certo que seria o substituto natural de Nelson), Cardozo (ponta-de-lança de enorme valor – para mim o único reforço a sério da época – mas que precisa de pelo menos 6 meses para começar a marcar os tais 2 golos em cada 3 jogos que se fala – vem de um futebol e de um escalão completamente diferente da Liga dos Campeões) e Bergessio (jogador para jogar vindo do banco, devido à sua enorme força de vontade).
Ou seja, para entrar de caras na equipa, saíram 3 ou 4 (dependendo do estatuto de Anderson) e entraram 0.
Mesmo que se confirmem os nomes hoje veiculados (Pauleta, Rochemback e Zé Castro), o saldo continuará a ser extremamente negativo para a qualidade global da primeira equipa.
E de quem é a culpa disto? Será de Fernando Santos que sempre disse coisas como “perder Simão seria um pesadelo” ou “vamos ter calma”, quando o Presidente anunciou que este é o melhor plantel dos últimos 10 anos? Ou foi Fernando Santos que, a 24 horas do primeiro grande desafio da temporada, deixa ir embora (com dinheiro suficiente, segundo o gestor financeiro, para fazer o que o F.C. Porto fez com Lucho) o motor da equipa na pré-temporada?
Eu acho que não.
Antes de mudar de treinador, eu começaria por contratar um gestor de futebol, à semelhança do que foi Ribeiro Telles no Sporting ou mesmo Arrigo Sacchi (ou agora, Mijatovic) no Real Madrid há uns anos.
Depois preocupava-me com o treinador e com a sua demasiada boa vontade que não incute na equipa a vontade de trucidar o adversário pela vitória, por exemplo. É isso que Vieira procura em Camacho (as “ganas”, como dizem na terra dele) e eu julgo que encontrará.
Dito isto, Camacho vir é sempre uma boa notícia – é o melhor treinador das últimas 10 Ligas, Special One à parte.
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