O Glutão
Terminou ontem uma era na Formula 1. Após 248 corridas (2º piloto de sempre com maior número e único record com que não ficou), o alemão Michael Schumacher (esse grande porco que andou a ocupar o meu lugar estes anos todos, basicamente), abandona o Grande Circo e vai dedicar-se a estoirar os milhões que amealhou em 16 anos de competição ao mais alto nível. Abandona no topo das suas capacidades e após uma corrida fenomenal, em que demonstrou porque razão atingiu o que atingiu. "Perseguido" por algum azar e problemas técnicos, nas 2 últimas corridas (e que basicamente o impediram de somar o 8º título de pilotos). A recuperação de ontem do 19º lugar até ao 4º, com uma série de ultrapassagens, com destaque para a última ao Raikkonen (só um "kit de unhas" de uma cólidade extrema e o facto de já nada estar em jogo permite uma coisa daquelas), são a prova que o senhor ainda estava aí para as curvas.
Para aqueles que vão comentar na caixinha ali em baixo, se não gostam da pessoa, limitem-se a dizê-lo.
As habituais "desculpas" tipo:
- "Ah e tal, tinha o melhor carro " (são sempre os pilotos que os desenvolvem, quer com o seu próprio esforço, quer reunindo e motivanto uma equipa técnica e de fornecedores, que lhe porporcionam o melhor material possível numa determinada ocasião);
- "Ah e tal, ganhava as corridas sempre nas boxes" - desculpa parva, que se justifica por si só;
- "Ah e tal, nunca teve um piloto na equipa dele em condições" (durante 16 temporadas, teve vários companheiros de equipa, que foram consistentemente batidos, sendo que Rubens Barrichelo é capaz de ter sido aquele que teve um andamento mais próximo. Ninguém que não seja muito bom, bate todos os companheiros de equipa 16 anos seguidos, sendo que o 1º foi o tri-campeão do Mundo Nelson Piquet.);
- "Ah e tal, se o Senna não tem morrido..." Sim, acredito que se o Ayrton Senna não tem morrido tragicamente, se calhar os números não seriam tão impressionantes, mas acredito que aparte as poles positions, o resto iria parar-lhe tudo às mãos na mesma;
- "Ah e tal, a Ferrari fazia sempre tudo para o ajudar, inclusivé mandar abrandar os companheiros de equipa". Esta para mim é a desculpa mais esfarrapada. Meus amigos, fazia-o porque estavam milhões e milhões envolvidos e era ele o piloto que dava garantias de levar a àgua ao chamado moinho. Durante todos os anos em que esteve na Ferrari, só condenei um GP - o da Áustria em 2002. Nessa altura a vantagem técnica da Ferrari era por demais evidente e não havia necessidade nenhuma de dar a vitória ao alemão num fim de semana que tinha sido perfeito para o brasileiro. Mas há que não esquecer que quatro anos antes, ao não mandar abrandar Eddie Irvine, na 1ª corrida, no Brasil, Mika Hakkinen pode ser campeão do Mundo e gato escaldado...
- "Ah e tal, não é desportista e tem comportamentos anti-desportivos". Teve alguns, de facto, provando que é humano e na maioria deles foi penalizado. Mas daí a dizer os disparates que o canadiano Jacques Villeneuve disse quando abandonou a F1, pela porta dos fundos, vai uma grande distância.
Os números não mentem. Pessoalmente tenho muitas dúvidas, que ainda venha a ver alguns destes recordes batidos (se bem que eles existem para isso mesmo). Portanto se não gostam deste autêntico mito vivo, limitem-se a dizer isso mesmo e não a arranjar desculpas parvas:
- 248 corridas (2º atrás de Ricardo Patrese com 256);
- 91 vitórias (2º Alain Prost com 51);
- 154 pódios (2º Alain Prost com 106 e 62.10% das corridas no pódio);
- 190 corridas nos pontos (2º Alain prost com 128 e que representa uns impressionantes 76.21% do total de partidas);
- 68 Poles (2º Ayrton Senna com 65);
- 76 Voltas Mais Rápida da corrida (2º Alain Prost com 41);
- 1369 pontos (2º Alain Prost com 798.5);
- 40 corridas com Pole e vitória (2º Ayrton Senna com 29);
- 22 corridas com Pole, Volta mais rápida e vitória (2º Jim Clarck com 11);
- 7 Títulos Mundiais de Pilotos (5 dos quais consecutivos);
- Piloto com mais vitórias numa pista em Magny-Cours (8); Montreal (7); Imola (7); Spa (6); Barcelona (6); Suzuka (6); Nurburgring (5); Indianápolis (5); Monza (5); Melbourne (4); Hungaroring (4); Hockenheim (4); Interlagos (4);
- Maior número de vitórias numa temporada - 13 em 2004 (2º M.Schumacher com 11 em 2002; 3º M. Schumacher com 9 em 2001, 4º M.Schumacher com 9 em 1995, 5º M. Schumacher com 9 em 2000);
- Maior número de pódios numa temporada - 17 em 2002 (2º M. Schumacher com 15 em 2004);
-Maior número de pontos numa temporada- 148 em 2004 (2º M. Schumacher com 144 em 2002);
- Piloto com mais vitórias numa equipa (72 com a Ferrari);
- Titulos de equipas conquistados - 7 (6 com a Ferrari e 1 na Benetton);
- etc, etc, etc.
Estes números cruzados com companheiros de equipa e com dados de equipas (especialmente na Ferrari) tornam-se fastidiosos e esmagadores. A partir do início da temporada de 2007, uma nova era se irá iniciar. Uma era em que um piloto que domina consistentemente e durante anos a fio os adversários, dificilmente vai estar em pista. Porque um tipo destes aparece uma vez em cada 50 anos. Ou mais...
PS: No mesmo ano, dizerem adeus, dois dos meus grandes idolos desportivos da minha geração (este Verão abandonou André Agassi a sua carreira no ténis), custa um bocadito, ó caraças, mas é a lei da vida...
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