terça-feira, novembro 08, 2005

Considerações sobre aquilo que verdadeiramente interessa. O futebol, claro!

Back in the old days...O futebol que, tal como a Igreja Católica Romana, prima por acompanhar de perto todas as mutações da sociedade que o rodeia (abro aqui o meu primeiro parêntesis, para explicar aos mais desatentos, que esta é uma frase irónica, uma vez que o desporto-rei, tem a velocidade de um caracol que segue as indicações de um koala, quando toca a adaptar-se a inovações), sofreu no passado fim de semana, mais uma dura machadada na sua imagem pública.

Há uns senhores, que ninguém conhece (ou pelo menos eles não se dão a conhecer), de considerável idade, que formam um tal de International Board. Reúnem-se uma vez por ano, ao que julgo saber em terras britânicas e que para além de serem considerados uma espécie de "guardiões" de um tesouro inexpugnável, primam por todos os anos (se calhar para justificar algumas receitas chorudas que obtêm) fazer pequenas alterações às leis do jogo. Ora, estas alterações, são quase sempre ínfimas e com muito pouco sentido prático (ah e tal, o fora de jogo começa a contar a partir do joelho e não da anca, como anteriormente). Assim sendo, em vez de tornarem a interpretação das leis mais claras, só geram a confusão e, não poucas vezes, a prática acaba por fazer com que sejam pouco aplicadas ou até esquecidas.

Basicamente são os "Velhos do Restelo do Futebol". Alegam que as leis do jogo já têm muitos anos e que foram estas mesmas leis que tornaram o jogo no fenómeno dos nossos dias e que qualquer alteração deve ser muito bem ponderada e patati e patata.

Neste fim de semana ocorreram uma série de situações, nos principais jogos da nossa I Liga, que me fizeram discorrer aqui, aquilo que eu acho que deveria mudar no desporto-rei, a bem de todos. Primeiro o que aconteceu, e só referindo os jogos mais mediáticos:

- No Sporting-União de Leiria, um fiscal de linha e também o árbitro da partida, não viram um golo da equipa visitante. É uma situação que quase que entra no domínio do surreal. A bola estava entre meio metro e um metro dentro da baliza do Sporting, e é caso para aplicar aqui um velho slogan militar: Só eles é que estavam com o passo certo! Só aqueles dois assopradores de apito é que não viram o lance. Para mim, este caso nem é daqueles que justifica a introdução da famosa "bola com chip", de que se anda a falar há mais de dois anos, tal a clareza da situação;

- No Benfica-Rio Ave (o que vou escrever a seguir é com base no que toda a gente diz/escreve, porque eu fui ao estádio e curiosamente até nem saí de lá com má impressão da arbitragem), houve dois lances de potencial perigo, na 1ª parte, que foram cortados por alegados fora-de-jogo, ao ataque do Benfica. O 2ª golo dos vila-condenses foi precedido de um fora-de-jogo de mais de 1 metro e o 1º golo do Benfica nasce de uma falta inexistente;

- Logo de seguida, em Paços de Ferreira, fica por assinalar uma grande penalidade contra o FCP e é anulado um golo limpo a Hugo Almeida.

O que aconteceu de seguida era mais que previsível. Toda a gente se queixou. Treinadores, jogadores, dirigentes (estes com a particularidade de, regra geral, só verem os lances que prejudicam a sua equipa e assobiarem para o lado na situação adversa), adeptos de sofá - que hoje em dia estão armados de um considerável arsenal de câmaras e ângulos diversos, em velocidade real, em slow-motion, em super-slow-motion, em sei lá que mais - e os do estádio que depois se sentam no sofá, vêm estes lances até à exaustão, analisam e começam as suspeitas, as acusações.

São clássicos muitos e muitos erros de arbitragem com influência nos resultados das partidas, mas a meu ver, estes que acabei de nomear, teriam uma solução deveras simples, assim quisessem os tais "Velho do Restelo".

A memória permite-me ainda aqui juntar alguns erros deste calibre e que tiveram influência no resultado da partida. Atenção que eu sei muito bem, que os vitoriosos poderiam continuar a ser os mesmos, mas é inegável que há decisões que influenciam o desenrolar das partidas.

1 - Final do Campeonato do Mundo de 1966, o 3º golo dos ingleses validado por supostamente a bola ter ultrapassado a linha de golo, devolvida pela trave. Talvez seja o 1º caso documentado de situações dúbias. Se não o é, pelo menos é o mais famoso;

2 - A célebre "mão de Deus" de Maradona, no Argentina-Inglaterra do Mundial do México, em 1986;

3 - O Portugal-Liechtenstein, da fase de apuramento para o Campeonato do Mundo da Alemanha, no mês que vem, em que um defesa do Liechtenstein (como raio se chama um habitante deste grão-ducado?) substitui o seu guarda-redes e defende com a mão uma bola que se dirigia para a baliza;

4 - O célebre lance de Vítor Baía, o ano transacto no Estádio da Luz, que felizmente acabou por não ter influência nas contas finais do campeonato;

5 - Deste mesmo jogador, uma defesa com as mãos, uns valentes metros fora da sua área, num jogo em Barcelos, contra o Gil Vicente;

6 - Um célebre Benfica-Sporting, que terminou 2-2, em que houve tantos disparates que nem os vou nomear;

7 - A meia final entre o Liverpool e o Chelsea, da Liga dos Campeões do ano passado, que foi resolvida com um golo-fantasma;

8 - Um Manchester United-Tottenham, da época transacta, em que um lance também surreal (mas mais desculpável) em termos de análise do trio de arbitragem, sonegou um golo a Pedro Mendes;

9 - Já esta época o Real Madrid perdeu um jogo em casa, com um golo-fantasma (julgo que frente ao Celta de Vigo);

10 - As eliminações vergonhosas, quer da Itália, quer da Espanha, no último Campeonato do Mundo, frente à anfitriã Coreia do Sul;

11 - Uma meia-final da Taça dos Campeões Europeus, no Estádio da Luz, entre o Benfica e o Marselha, em que o golo decisivo, foi marcado com a mão, pelo benfiquista Vata;

12 - A qualificação da Selecção Nacional para o Europeu de 1984, às custas de um "penalty" inexistente, sobre Fernando Chalana.


E quantos mais dias eu despendesse a pensar nestes casos, mais me ocorreriam.

Ora bem, a meu ver, o futebol tem de acompanhar o mundo. Tem de se adaptar, e o quanto antes, aos tempos que correm. É um chavão mil vezes repetido, mas que não vejo ser posto em prática. Anos e anos, demoram decisões que poderiam ser tomadas em semanas, ou em vá lá 3 meses, para que haja uma discussão do assunto. Hoje em dia, na Europa, ao nível de clubes, e no mundo, ao nível das selecções, há cada vez mais dinheiro envolvido neste negócio e não se percebe, de todo, a razão de tanta inércia. Quase todos os jogos e os principais lances são escalpelizados ao milímetro, e o consumidor desta indústria sente-se, a cada dia que passa, defraudado com os erros que teimam em não desaparecer.

Eis então aquilo que eu penso que deveria ser mudado no desporto, e com carácter de alguma urgência, tendo por base 3 décadas de espectador e adepto do desporto, e muito centrada no continente europeu:

Regras do Jogo:

- Ao bom estilo do famigerado "Subbuteo", colocar uma linha, em cada meio-campo, distante cerca de 30 metros da linha de golo e paralela a esta. Somente a partir dessa linha se poderiam considerar situações de fora de jogo, em vez da linha de meio campo, como actualmente ocorre. Isto iria obrigar necessariamente à existência de mais espaço para se jogar;

- Introdução da tão famosa "bola com chip", e respectivo sinal "avisador" para o juiz da partida, que anda a ser testada há anos e anos e anos;

- Fim dos 45 minutos de jogo em cada parte e introdução de 2 partes de 25 minutos de tempo real ao bom estilo da grande maioria dos desportos em que se utilizam períodos de tempo de jogo. Defendo só este sistema nas competições que vou nomear no ponto seguinte. Aquelas que eu considero as mais importantes. As restantes continuarão a reger-se pelo sistema actual.


Arbitragem

Introdução, nas principais competições, de um árbitro na cabina de realização. Hoje em dia, quase todos os jogos têm transmissão televisiva e não é por aí que eu encontro entraves. Este é um sistema que é utilizado no raguêbi, com inegável sucesso. Defendo que em fases finais de competições de Selecções, fases de apuramento das mesmas, Liga dos Campeões (com a 3ª pré-eliminatória incluída), a actual fase de grupos da Taça UEFA e as principais competições domésticas dos países que quisessem aderir a este sistema, isto deveria ser aplicado. Em Portugal julgo que deveria ser só na I Liga e na Taça de Portugal, a partir de determinada fase da competição - por exemplo os oitavos-de-final. Não defendo que o jogo esteja permanentemente a ser interrompido, para se consultar as imagens televisivas. Mas um sistema que funcione da seguinte forma parece-me perto de algo de positivo:

- o 5º árbitro poderá, num espaço de tempo entre 15 a 20 segundos após o ocorrido, avisar o árbitro principal de algo que tenha detectado e passado despercebido a este, desde que o mesmo seja relevante;

- Em qualquer altura, o juiz da partida pode interrogar o 5º árbitro sobre determinado lance e este teria também um curto período de tempo para dar o seu veredicto;

- Em situações em que hajam dúvidas no fora de jogo, deixa-se correr o jogo e caso ocorra um golo, o 5º árbitro dará o seu veredicto;

- Durante todo o jogo, os treinadores das equipas poderiam solicitar a intervenção do 5º árbitro, não mais que duas vezes sendo que, se não lhe for dada razão, o mesmo será privado de uma substituição.

Os defensores dos "Velhos do Restelo" irão, por certo, já atirar para o ar que isto não seria justo. Que só os jogos mais importantes, nos estádios mais importantes, têm condições para levar esta prática avante e por aí fora. Pois eis mais algumas modificações, que eu considerava importantes e que se calhar facilitariam a aplicabilidade destas medidas:

Competições Internacionais

Ao nível de selecções, a redução do número dos jogos de qualificação das selecções europeias, fazendo uma triagem das equipas mais fracas. Eu sei que isto não é muito democrático, mas meus amigos, não há pachorra para tantos Itália-Ilhas Faroé, França-Arménia, Portugal-Andorra etc... Pegavam nas 20 (ou 19 ou 18 conforme fosse mais prático para a elaboração dos grupos de apuramento) equipas mais fracas, com base nos inúmeros rankings que por aí existem, e destas faziam apurar 4 para as fases de grupos, duma qualquer forma a eliminar. Se formos a analisar as jornadas de apuramento, na Europa, para as principais competições, ao nível de selecções, há no máximo 2/3 jogos de real interesse. O resto são os chamados "jogos da treta", muitos deles com estas equipas fracas.

Competições Nacionais

- Redução da nossa I Liga para 12 clubes. Calma! Não iriam diminuir drasticamente o número de jogos. Defendo que se jogue uma 1ª fase, ao clássico estilo "todos contra todos a 2 voltas", o que perfazia 22 jornadas. A partir daqui, apareciam 2 grupos de 6 equipas, em que no 1º se lutaria pelo título e no segundo se lutaria pela descida de divisão, mais uma vez no sistema "todos contra todos a 2 voltas". Ou seja, mais 10 jornadas. No total teríamos 32 jornadas em vez das actuais 34;

- Na II Liga jogariam 18 equipas como actualmente;

- Desceria somente o último classificado da I Liga;

- Na I Liga haveriam somente 3 jogos televisionados, porque não há pachorra para tanto jogo na TV. Um no Sábado à noite. Um no Domingo à noite. Os restantes 4 seriam disputados no Domingo à tarde, sendo que um seria televisionado;

- Tudo somado, em cada fim de semana haveriam 15 jogos de futebol profissional em Portugal. Parece-me mais que suficiente que houvesse um quadro de árbitros, constituído por não mais de 22 assopradores do apito, bem pagos e responsabilizados pelo seu desempenho;

- Destas 2 divisões para baixo, nem me interessa atirar postas de pescada. Organizem o que muito bem entenderem, com mais ou menos zonas, ou lá o que muito bem entenderem e jogue-se como até aqui.

E prontos! É basicamente isto. Naturalmente sujeito a discussão.

PS: Ainda me esqueci desta. Uma equipa, para jogar na nossa I Liga, teria que jogar num estádio em condições. Num estádio em que pudesse ser instalado todo o arsenal de câmaras, e que possibilitasse um bom visionamento dos lances. Estádios como os do Nacional da Madeira, do Paços de Ferreira, do Estrela da Amadora, do Penafiel, do Moreirense, etc., não reúnem essas condições. Os clubes, ou arranjavam alternativas ou então passavam a bola a outrém!

Sem comentários: