quarta-feira, junho 27, 2007

O Joe

Joe Berardo é um caso singelo neste rectângulo e que tenho acompanho com alguma atenção. Não me interessa como é que Joe ganhou a sua fortuna, porque não terá sido o primeiro nem o único branco a ganhar com a exploração dos nativos do sul de África (o que será reprovável, se isso aconteceu mesmo, obviamente), pelo contrário: interessa-me isso sim a presença de um corpo estranho na mediania nacional a que estamos formal e culturalmente acostumados.

Por um lado, Joe (ou José Manuel, como preferirem) é um boçal que a "intelectualidade bem-pensante" (e António Mega Ferreira é um caso óptimo deste tipo de malta "muito viajada") detesta e considera o anti-cristo em pessoa e que ainda por cima se dá a luxos como ordenar uma jornalista em directo numa entrevista que o emende sempre que ele diga "CVM" em vez de CMVM; chamar "babe" à Ministra da Cultura; lançar uma OPA (que para ele é de tostões) sobre um clube de futebol; ser o capitalista que é aplaudido por um sindicato da CGTP à porta de uma Assembleia Geral de "opressores do povo trabalhador"; aparecer como o grande vencedor de uma batalha accionista contra o banqueiro do regime; e abrir, num sitio visto como o mais elitista da cidade um Museu com o seu próprio nome.

Tudo isto a "intelectualidade" detesta (seja à esquerda ou à direita): Como ousa um tipo cheio de dinheiro fazer isto tudo sem o nosso assentimento moral?, pensam eles. Pois, numa dinâmica que tem muito de Jardiniana, ele está, grosso modo, a marimbar-se para o que essa malta diz: faz o que quer e lhe apetece e quando lhe aparece uma ave-rara desta espécie de "malta viajada" (como Mega Ferreira) pela frente são logo despachados a um "se esse senhor tem problemas mentais que se vá tratar!". Pelo meio, o tal Museu (que os especialistas dizem ser de categoria internacional) é quase gratuito (gosto particularmente da excepção para "os sócios dos clubes da I Divisão").

Num país que prima pela mediania, Joe, com todos os seus defeitos e qualidades - que não quero julgar, nem dizendo que ele é o bom da fita nem que é o mau - é uma lufada de ar fresco pela sua excentricidade e sobretudo por fazer confusão a muita gente. Só por isso, acho-lhe um piadão - tomara a Portugal ter mais personagens controversas como esta.

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