O Manel e o João cresceram no mesmo bairro, andaram na mesma escola. O Manuel sempre foi aplicado, o João nem por isso. O Manuel hoje tem um emprego que lhe paga as contas e ainda sobra algum ao final do mês para umas saídas à noite com os amigos. Um desses amigos é o João, que vai fazendo uns trabalhos aqui e ali que nem sempre lhe dão para pagar as contas, mas quer sempre sair à noite. Em Janeiro, Fevereiro e Março o João pediu sempre dinheiro emprestado ao Manuel para "não passar fome". Mas todas as semanas o Manuel continuava a ver o João na noite, a divertir-se. O João não pagava o que tinha pedido ao Manuel, mas continuava a pedir. Às tantas o Manuel, responsável como é, deixou de ter aquele excesso para sair à noite. Falou com o João e explicou-lhe que não lhe podia continuar a emprestar para "mulheres e bebida". O João apontou o dedo e disse ao Manuel que ele também gostava de mulheres e bebida. "pois gosto! Mas eu pago-as do meu dinheiro e tu... bom, pagas do MEU dinheiro. Tens de aproveitar o que te empresto para pagares as tuas contas e tentares investir para melhorares de vida". O João disse que sim.
O Manuel durante os meses seguintes continuou a emprestar ao João com o acordo que ele, João, ia investir e endireitar a vida. Para o fazer o Manuel teve de deixar de sair, de se divertir. Mas era por uma boa causa: o João ia endireitar a vida. Qual não é o seu espanto quando, uns meses depois, vê o João chegar a casa completamente bêbedo, com duas mulheres pelo braço. Ao confrontá-lo, o João chamou-lhe fascista e sexista e disse que não lhe pagava nada porque tinha direito de se divertir e ter a sua vida.
O Manuel está, neste momento, num dilema: deve continuar a emprestar ao amigo para este não passar fome, ou deve parar o empréstimo dado que ele é um ingrato que não se sabe governar?